O seu médico pode em breve começar a receitar-lhe fezes

A FDA aprovou, pela primeira vez, um tratamento à base de fezes. O futuro de medicina pode passar pelos chamados transplantes microbianos fecais.

Uma maçã por dia mantém o médico afastado, diz o ditado. Agora, em algumas situações, as fezes também podem ajudar a mantê-lo longe de alguns problemas de saúde. Confuso?

No mês passado, pela primeira vez, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou um tratamento à base de fezes. O medicamento, Rebyota, é usado para tratar infeções bacterianas recorrentes por Clostridium difficile.

C. difficile é a causa mais comum de colite associada a antibióticos e é tipicamente transmitida num hospital, embora adquiridos em comunidades estejam a aumentar. A diarreia induzida por C. difficile ocorre em até 8% dos pacientes hospitalizados, sendo responsável por 20 a 30% dos casos de diarreia adquirida em hospital. É responsável por dezenas de milhares de mortes nos Estados Unidos todos os anos.

Esta aprovação da FDA é provavelmente apenas o começo de um futuro promissor para as fezes por prescrição, escreve a Inverse.

Aliás, transplantes microbianos fecais, nos quais fezes de um dador são transplantadas para mudar a comunidade microbiana de um paciente, já existem há anos.

Ivan Vujkovic-Cvijin, professor do F. Widjaja Inflammatory Bowel and Immunobiology Research Institute, sugere que a infusão de micróbios intestinais de um dador saudável no intestino de um paciente possa ajudar a mitigar doenças influenciadas pelo microbioma intestinal.

No caso da C. difficile, os antibióticos não chegam, já que só eliminam a bactéria na sua fase ativa. É aqui que pode entrar o transplante microbiano fecal. Vujkovic-Cvijin sugere que o transplante também pode resultar em pacientes com colite ulcerativa. Resultados de estudos anteriores corroboram a sua hipótese.

Além da colite ulcerativa, a estudos iniciais mostraram “resultados promissores para transplante microbiano fecal no autismo, imunoterapia contra o cancro e outras condições médicas”, diz Vujkovic-Cvijin. No entanto, o investigador realça que ainda são necessários mais estudos para compreender isto.

Embora o tratamento recém-aprovado para C. difficile seja na forma de um enema, essa não será necessariamente a sua forma futura. Para condições que envolvem o intestino delgado, métodos sem enema provavelmente serão preferíveis, salienta o perito à Inverse.

Apesar de estes transplantes serem promissores, Vujkovic-Cvijin realça as que são um pouco imprevisíveis.

“Não sabemos quais micróbios do recetor irão colonizar o hospedeiro e quais micróbios do recetor serão deslocados”, diz o investigador. “É importante realçar que o transplante microbiano fecal também nem sempre desloca os mesmos micróbios em cada recetor”.

ZAP //

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