O sarcófago de Ramsés II está em Paris. Um gesto “excecional”, com um obrigado do Egito

O empréstimo do sarcófago de Ramsess II a um museu parisiense é um agradecimento do Egito pelo trabalho dos cientistas franceses que nos anos 1970 salvaram a múmia do faraó da deterioração — uma história pouco conhecida da egiptologia.

O sarcófago do antigo faraó egípcio Ramsés II começou esta sexta-feira a ser exibido no museu Grande Halle de la Villette, em Paris.

A exposição, que mostra alguns dos maiores tesouros do Egito e o sarcófago do “Faraó Construtor”, poderá ser visitada até 6 de setembro.

Este é um “empréstimo excecional, fruto de uma cooperação sem precedentes entre a França e o Egito”, explicou Benedicte Lhoyer, assessor científico da exposição, em declarações à agência AFP.

O empréstimo das autoridades egípcias ao museu francês é um reconhecimento pela ajuda de cientistas franceses que salvaram a múmia do antigo faraó da deterioração, em 1976, em Paris.

A exposição exibe apenas o sarcófago do lendário Ramsés II; a múmia em si permaneceu no Egito, já que as atuais leis do país proíbem a deslocação de múmias reais para o estrangeiro.

Ramsés II, também conhecido como Ramsés, o Grande, governou mais de 60 anos durante o século XIII AC, e deixou mais de 100 filhos.

Considerado um rei extraordinário, liderou grandes conquistas militares e supervisionou projetos de construção monumentais. “Ramsés II derrotou o tempo. Tal como Tutankhamon, tornou-se imortal“, disse Lhoyer.

O sarcófago de madeira de cedro, pintado a amarelo, que representa o rei em cores brilhantes com os braços cruzados sobre o peito a segurar um cetro e um chicote, não foi o primeiro a guardar a múmia de Ramsés II.

Inscrições nas laterais do sarcófago revelam que o corpo do faraó foi movido três vezes, a partir de 1070 AC, depois de saqueadores terem invadido o seu túmulo no Vale dos Reis, em Luxor. O seu local de descanso final viria a ser descoberto quase três mil mais tarde, em 1881.

Warren LeMay / Wikipedia

O sarcófago de Ramsess II em exibição no Museu Egípcio

A exposição em Paris inclui mais de 180 objetos, entre os quais estátuas, máscaras e joias, bem como uma recriação 3D de uma das batalhas do rei contra o império hitita.

Uma história pouco conhecida

O empréstimo do sarcófago é um agradecimento aos franceses pelo trabalho de recuperação da múmia de Ramsés II, com mais de 3 mil anos, durante uma grande exposição sobre seu reinado no museu Grand Palais, nos anos 1970. A história, conta a Deutsche Welle, é dos capítulos menos conhecidos da egiptologia.

Em 1976, o então presidente francês Valery Giscard d’Estaing convenceu o seu homólogo egípcio Anwar Sadat a autorizar a viagem da múmia a Paris, prometendo que lhe daria uma receção “adequada a um rei“.

Giscard d’Estaing cumpriu a promessa: quando o avião militar francês com os restos mortais do rei egípcio pousou no aeroporto de Le Bourget, em Paris, foi estendido um tapete vermelho, e Ramsés II foi recebido por um ministro e pela Guarda Republicana. A cerimónia de boas-vindas foi transmitida ao vivo pela televisão.

A bordo do avião viajava a arqueóloga francesa Christiane Desroches Noblecourt, do museu do Louvre, que viajou até ao Cairo para acompanhar o faraó na viagem. A múmia vinha envolvida em bolhas de plástico para a proteger de qualquer pancada.

Chegada à capital francesa, a múmia não foi diretamente levada para exposição. Os restos mortais do faraó, que teria cerca de 90 anos quando morreu, em 1213 AC, começavam a deteriorar-se, pelo que a uma equipa de egiptólogos do Musée de l’Homme iniciou de imediato trabalhos de restauro.

Quando a múmia de Ramsés II foi descoberta, em 1881, encontrava-se em excelentes condições. Mas o contacto com o ar fresco provocou danos causados ​​por parasitas e fungos.

Depois de radiografar o corpo frágil e de o submeter a testes biológicos e químicos, os especialistas restauraram tecidos e criaram novas faixas. A múmia foi depois enviada para tratamento de radiação na Comissão Francesa de Energia Atómica.

Após oito meses de trabalho, Ramsés II estava pronto para “uma nova ronda da sua imortalidade”. A 10 de abril de 1977, a múmia do faraó foi levada de volta ao Cairo e colocada em exibição ao lado de outras múmias reais no Museu Egípcio.

ZAP //

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