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O que os emails pirateados revelam sobre Hillary (e extraterrestres)

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A Wikileaks continua a divulgar a conta-gotas emails da conta do director de campanha de Hillary Clinton, John Podesta. Entre jogadas de bastidores e “dicas” da imprensa, há referências polémicas à Síria, e muita conversa sobre extraterrestres.

O “pacote” de emails hackeados da conta de Podesta inclui cerca de 50 mil mensagens, conforme refere a Wikileaks que decidiu entrar na campanha presidencial norte-americana divulgando o seu teor ao público.

“Deixá-los matarem-se” e negociar com “os que sobrarem”

Entre a informação tornada pública, encontram-se várias referências ao conflito na Síria, com Hillary a considerar que criar uma zona de exclusão aérea no país significaria “matar muitos sírios”, conforme se lê num email com extractos de discursos pagos que ela fez para o Goldman Sachs, o Morgan Stanley e o Deutsche Bank, entre outras entidades financeiras e não só.

Esta ideia contraria a posição pública assumida por Clinton, no segundo debate presidencial, onde defendeu a criação de uma zona de exclusão aérea como forma de enfrentar a crise humanitária sem fim à vista.

Noutro desses discursos pagos, a candidata democrata defende uma abordagem “mais robusta”, com “acção encoberta”, no sentido de “treinar e armar braços de rebeldes” na Síria.

Também fala por outro lado, de uma “abordagem sem interferência” que se inclina para “deixá-los matarem-se até ficarem exaustos” para depois, se encontrar uma forma de negociar com “os que sobrarem”.

A Wikileaks divulga ainda um email de 17 de Agosto de 2014, ou seja, oito meses antes de anunciar a sua candidatura, em que fala da estratégia de combate ao grupo terrorista Estado Islâmico, apostando na confrontação diplomática de Arábia Saudita e Qatar, considerando que garantem “apoio financeiro e logístico clandestino” ao chamado Daesh e “a outros grupos radicais sunitas na região”.

Ralph Alswang

John Podesta, ex-chefe de gabinete da Casa Branca e actual director de campanha de Hillary Clinton.

Hillary recebeu “secretamente” pergunta da CNN

A maioria dos emails divulgados é de 2015 e dá a ideia das jogadas de bastidores e da estratégia da campanha de Hillary Clinton na corrida presidencial norte-americana.

Num dos emails, Podesta fala do objectivo de “passar a imagem de que os nomeados republicanos são intragáveis para a maioria do eleitorado”.

Noutra mensagem, recebida pelo director de campanha, um político democrata avança a ideia de divulgar imagens de Clinton a dar de comer e a brincar com a neta como “uma grande ajuda para o público entendê-la melhor”.

A Wikileaks evidencia ainda que Clinton recebeu “secretamente” uma pergunta da CNN, antes do debate com o democrata Bernie Sanders, em Janeiro deste ano.

A alegada dica terá sido enviada pela ex-analista política do canal, Donna Brazile, agora presidente do Comité Nacional Democrata, que terá divulgado a Clinton planos do senador.

Há ainda correspondência que atesta que Haim Saban, o dono do canal Univision, que emite nos EUA em Espanhol, tendo como foco a comunidade latina do país, pressionou Clinton para vincar as suas posições contra Trump por causa da forma como ele se referiu aos imigrantes mexicanos nos EUA.

Saban, que é um dos maiores contribuidores financeiros de Clinton, ainda manifesta em vários emails receio de que a Univision começasse a ser vista como demasiado pró-Clinton, pelo facto de o canal ter movido uma espécie de campanha para ajudar a candidata democrata a melhorar a sua imagem junto da comunidade latina.

Noutro email, alguém referencia que o anterior opositor democrata, Bernie Sanders, escreveu que “as mulheres fantasiam sobre serem violadas por três homens ao mesmo tempo”, citando ainda outro artigo do senador onde “relaciona o comportamento sexual das mulheres com o cancro da mama”.

Extraterrestres e a “filha mimada”

Mas para lá da política, os emails de Podesta também ilustram detalhes da vida da família Clinton, nomeadamente quando um antigo conselheiro do ex-presidente dos EUA se queixa, numa mensagem enviada ao director de campanha, de que a filha Chelsea é uma “miúda mimada”.

Patente nas mensagens fica ainda o empenhamento de Podesta na divulgação de informação secreta sobre a vida extraterrestre e os ovnis, uma causa que lhe é muito cara desde os tempos da administração Obama.

Numa troca de emails com o astronauta norte-americano Edgar Mitchell, que integrou a missão Apollo 14, durante 2015, este sugere que o Vaticano está ciente de que há vida extraterrestre e fala do receio de que haja uma guerra espacial em breve, apelando a Podesta para que organize uma reunião para tratar deste assunto.

O assunto é repetido em conversas por email com o ex-vocalista da banda punk Blink 182, Tom DeLonge, ficando patente o interesse mútuo de que as autoridades dos EUA divulguem mais dados sobre ovnis e especialmente sobre a teoria da conspiração de Roswell que alega que os militares capturaram um extraterrestre, em 1947.

Este interesse de Podesta pela vida alienígena não é novidade, já que em 2015, quando saiu da administração Obama, escreveu no Twitter que a sua “grande falha” foi não ter conseguido a divulgação de ficheiros sobre ovnis.

Entretanto, essa conta de Twitter foi “colonizada” pelo seu sucessor no cargo, Brian Deese, a quem são assim, agora imputadas essas declarações, conforme reporta o site Breitbart, considerado pró-republicano – e que brinca que a conta pode ter sido raptada por extraterrestres!

Já no início deste ano, depois de ter assumido o papel de liderança da campanha de Clinton, Podesta afirmou ter convencido a candidata a divulgar os documentos classificados como secretos, no âmbito das investigações sobre extraterrestres e ovnis, caso seja eleita presidente dos EUA.

Campanha de Trump diz que Clinton é “uma fraude”

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A Wikileaks ainda não parou a “torrente” de emails e ninguém sabe ainda, prever que tipo de consequências poderão ter as suas revelações na campanha presidencial norte-americana e se poderão ajudar Trump a diminuir a desvantagem que obteve nos últimos tempos, especialmente depois da divulgação de um vídeo onde faz comentários machistas.

A campanha de Trump já está a aproveitar a boleia para atacar a candidata rival, acusando-a de ter assumido “uma personagem” para a sua campanha que é “uma completa e total fraude”.

As palavras são do presidente da Comissão Nacional Republicana, Reince Preibus, que, em nota à imprensa, salienta que “com as revelações da WikiLeaks estamos a descobrir quem é que a Hillary Clinton realmente é”.

Campanha de Clinton ataca a Rússia

Do lado da candidata democrata, o porta-voz de campanha, Glen Caplin, prefere atacar a Rússia, repetindo a ideia de que o governo russo está por trás dos hackers que obtiveram os emails de Podesta.

“Devia ser preocupação para todos os americanos que a Rússia esteja disposta a envolver-se em tais actos hostis de modo a ajudar Donald Trump a tornar-se presidente dos EUA”, destaca Caplin.

A Rússia, pela voz do Ministro dos Negócios Estrangeiros Sergey Lavrov, numa entrevista à CNN, assegura que estas alegações são “ridículas”.

“Claro que é elogioso ter este tipo de atenção – para uma potência regional, como o presidente Obama nos chamou há algum tempo”, destaca em tom provocador Lavrov, considerando que não há “uma única prova” do envolvimento russo no ataque informático.

SV, ZAP

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