Ao contrário do déjà vu, em que situações novas parecem estranhamente familiares, o jamais vu é aquela estranha sensação de que algo familiar subitamente lhe parece novo.
Se uma coisa que lhe é familiar subitamente lhe parece estranha, isso é… jamais vu. Mas como funciona este estranho fenómeno?
“Contrariamente ao déjà vu, onde situações novas parecem familiares, o jamais vu ocorre quando situações familiares de repente parecem desconhecidas ou novas”, explica Akira O’Connor, professor de psicologia na Universidade de St Andrews, num artigo no The Conversation.
Estudos científicos anteriores sugerem que o déjà vu acontece quando o sistema de deteção de familiaridade do cérebro se desalinha da realidade — atua como um “verificador de factos” do sistema de memória.
Por outro lado, o jamais vu pode ocorrer ao ver um rosto conhecido que de repente parece desconhecido, músicos a perderem-se numa passagem musical que conhecem bem, ou mesmo quando estamos a conduzir numa estrada familiar mas nos sentimos perdidos.
O fenómeno é mais raro que o déjà vu, tornando-se ainda mais perturbador.
Num estudo realizado pela equipa de O’Connor, foi pedido a 94 estudantes universitários que escrevessem repetidamente a mesma palavra. Cerca de 70% pararam pelo menos uma vez devido a uma sensação descrita como jamais vu — tipicamente após 33 repetições de palavras comuns.
Noutra experiência, a equipa usou a palavra comum “the”, e 55% relataram sentir jamais vu após 27 repetições.
Estes resultados não são totalmente novos. Em 1907, a psicóloga norte-americana Margaret Floy Washburn realizou uma experiência na qual palavras observadas por longos períodos perdiam o seu significado e se tornavam fragmentadas com o tempo.
Segundo O’Connor, o jamais vu serve como um alerta quando algo se torna excessivamente automático ou repetitivo, permitindo aos sistemas cognitivos redirecionar a atenção.
O investigador sugere que o jamais vu surge de uma “saturação”, que sobrecarrega uma dada representação até que perde o sentido — fenómeno que também está ligado ao “efeito de transformação verbal”, no qual ouvir repetidamente uma palavra muda o seu significado percebido.
Bem, acabou de ler dez vezes a expressão jamais vu. E então, jamais vu?