Chuvas torrenciais e grandes inundações estão a afectar o leste de Espanha, especialmente a região de Valência. A culpa é da depressão DANA, cujos efeitos mais dramáticos não se sentirão em Portugal – em princípio.
Já estão contabilizadas mais de 60 mortes devido às fortes tempestades e inundações que estão a afectar o sul de Valência. É “a pior gota fria do Século em Valência”, segundo o El País que se refere ao outro nome que é dado à depressão DANA.
Na Catalunha, a cidade de Barcelona está em alerta máximo devido à possibilidade de queda de granizo de diâmetro superior dois centímetros e de ventos com velocidades da ordem dos 90 quilómetros por hora. Há receios que se formem tornados ou mangas de água.
Mas o que é a DANA?
A DANA é um fenómeno meteorológico também conhecido por “gota fria”. Trata-se do que os meteorologistas chamam uma “Depressão Isolada nos Níveis Altos”, como explica a Agência Espanhola de Meteorologia (AEMET).
Este fenómeno atmosférico resulta da colisão de uma massa de ar frio em altitude com o ar quente junto ao solo, o que gera instabilidade, causando tempestades, conforme a explicação da AEMET.
O veterano meteorologista espanhol Ángel Rivera que trabalhou na AEMET explica no seu blogue que esta está a ser “uma DANA um pouco anómala pela sua trajectória e localização, mas sobretudo pela forte circulação associada, tanto em si como na queda induzida a níveis baixos”.
O meteorologista nota que a DANA “não seguiu a trajectória habitual desde os Açores até ao golfo de Cádiz-Gibraltar” e que foi gerada “dentro de um vale profundo que se estendia das Ilhas Britânicas até ao norte da península e, uma vez formado, deslocou-se para sudoeste através da Península”.
“Esta localização favorece a instabilidade da atmosfera sobre a Península e as Ilhas Baleares, mas para além disso, forma-se uma tempestade na zona sul da Península, o que favorece a chegada de ventos de leste à costa mediterrânica”, sublinha o porta-voz da AEMET Rubén del Campo, conforme cita o El País.
“Mediterrâneo mais quente do que o normal”
Estes ventos “percorrem grandes distâncias sobre um Mar Mediterrâneo mais quente do que o normal para esta época do ano”, o que faz com que “cheguem muito carregados de humidade à costa mediterrânica”, acrescenta Del Campo.
“A interacção da DANA com estes ventos muito húmidos resulta na formação de tempestades com aguaceiros muito fortes, persistentes e até torrenciais na zona do Mediterrâneo”, destaca o mesmo especialista.
Ángel Rivera destaca ainda que há uma conjugação de factores que ajudam a explicar a intensidade do fenómeno. “Muita energia na circulação a níveis médios/altos, muito boa qualidade de combustível a níveis baixos e um abastecimento muito eficiente do mesmo ao interior”, destaca de forma resumida.
A juntar a isso há “algumas possíveis alterações que podem estar a ocorrer na circulação da atmosfera relacionadas com um aquecimento progressivo da atmosfera tropical/subtropical”, acrescenta.
Há imagens que valem por mil palavras… Esta é uma delas!
Reparem na altura da água em comparação com as placas de informação rodoviária! 😧#DANA pic.twitter.com/z0sbg3fLOs— Márcio Santos – Meteorologia e Ambiente (@MeteoTrasMontPT) October 30, 2024
DANA vai chegar a Portugal?
Os efeitos da depressão devem fazer-se sentir em Portugal, de forma muito menos intensa.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou doze distritos do continente sob aviso amarelo para estas quarta-feira e quinta-feira. Trata-se do nível de alerta menos grave numa escala de três.
O IPMA prevê aguaceiros que podem tornar-se fortes, com trovoadas, em algumas regiões.
O meteorologista Bruno Café refere ao Expresso que a “tendência” é que a DANA tenha “um deslocamento, lento, para oeste, portanto Portugal continental poderá ser afectado a partir da tarde, sobretudo a região centro e a parte mais a norte da região sul, com precipitação que pode ser, por vezes, forte”.
Tempo vai piorar na tarde de quinta-feira
O tempo deve agravar-se, sobretudo, na tarde de quinta-feira com a depressão “já mais a oeste, e a afectar o interior centro de Portugal, o interior da região sul e o Algarve”, salienta ainda o meteorologista do IPMA.
Os distritos do Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Beja e Faro estão sob aviso amarelo do IPMA entre as 12 horas desta quarta-feira e a meia-noite de quinta-feira.
Em Viseu, Guarda, Castelo Branco, Portalegre e Évora, o aviso vigora no mesmo horário, mas também entre as 12 horas de quinta-feira e a meia-noite de sexta-feira.
Mas o IPMA pode, nas próximas horas, elevar o aviso de amarelo para laranja caso a situação se agrave, como admite Bruno Café.