O que aprendeu a Philae sobre o 67P antes de “adormecer”

ESA

A sonda Philae da nave Rosetta pousada no cometa 67P

Uma aterragem caótica e descontrolada. Preso à sombra de um penhasco sem luz solar. A sonda Philae e a equipa resistiram. Com apenas 60 horas de bateria, o módulo perfurou, martelou e recolheu dados científicos da superfície do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko antes de entrar em hibernação. Aqui está o que sabemos até agora.

Apesar das aparências, o cometa é duro como gelo. A equipa responsável pelo instrumento MUPUS (Multi-Purpose Sensors for Surface and Sub-Surface Science) martelou uma sonda tanto quanto podiam na superfície do 67P mas apenas escavaram poucos milímetros.

“Embora o poder do martelo tivesse aumentado gradualmente, não fomos capazes de ir fundo na superfície,” afirma Tilman Spohn do Instituto DLR de Pesquisa Planetária, que lidera a equipa de pesquisa. “Se compararmos os dados com medições de laboratório, pensamos que a sonda encontrou uma superfície dura com uma força comparável à de gelo sólido,” acrescenta. Isto não é surpreendente, já que o gelo é o principal constituinte dos cometas, mas grande parte de 67P/C-G aparece coberta por poeira, levando alguns a acreditar que a superfície era mais suave e macia que a que o Philae encontrou.

Este achado foi confirmado pela experiência SESAME (Surface Electrical, Seismic and Acoustic Monitoring Experiment), onde a força do gelo coberto por poeira directamente por baixo do Philae era “surpreendentemente elevada” de acordo com Klaus Seidensticker do Instituto DLR. Os outros dois instrumentos SESAME mediram uma baixa actividade de vaporização e uma grande quantidade de água gelada por baixo do módulo de aterragem.

No que diz respeito à temperatura do cometa, o mapeador térmico MUPUS trabalhou durante a descida e em todos os três poisos. No local final, o MUPUS registou uma temperatura de -153ºC perto do chão do Philae antes do instrumento ser implantado. Os sensores desceram uns adicionais 10ºC ao longo de um período de cerca de meia-hora.

“Nós pensamos que isto ou é devido a uma transferência radioactiva de calor para a parede fria vista nas imagens CIVA ou porque a sonda foi empurrada para uma pilha de poeira fria,” afirma Jörg Knollenberg, cientista do instrumento MUPUS no DLR. Depois de olhar para ambos os dados do sensor de temperatura e do martelo, a conclusão preliminar da equipa do Philae é que as camadas superiores da superfície do cometa estão cobertas por poeira entre 10-20cm, sobrepondo gelo firme ou misturas de gelo e poeira.

A câmara ROLIS (ROsetta Lander Imaging System) tirou fotos detalhadas durante a primeira descida até ao local de pouso em Agilkia. Mais tarde, quando o Philae fez a sua aterragem final, o ROLIS capturou imagens da superfície de perto. Estas fotos, que ainda não foram publicadas, foram obtidas a partir de um ponto de vista diferente do conjunto de fotografias panorâmicas já recebidas do sistema de câmaras CIVA.

“Bela adormecida” até o próximo verão

Durante o tempo activo do Philae, a Rosetta usou o instrumento CONSERT (COmet Nucleus Sounding Experiment by Radio wave Transmission) para transmitir um sinal de rádio ao módulo de aterragem, enquanto se encontravam em lados opostos do núcleo do cometa. O Philae então retransmitiu um segundo sinal através do cometa de volta à Rosetta. Esta instrução foi repetida 7.500 vezes por cada órbita da Rosetta de modo a construir uma imagem tridimensional do interior do 67P/C-G, um “TAC” do outro mundo, por assim dizer. Estas medições foram feitas até que o Philae entrou em hibernação. No interior do cometa o gelo torna-se mais poroso, como revelado por medições feitas pela sonda.

O último dos 10 instrumentos a bordo do Philae a ser activado foi o SD2 (Sampling, Drilling and Distribution subsystem), desenhado para recolher amostras de solo para os instrumentos COSAC e PTOLEMY. Os cientistas têm a certeza que a broca foi activada e que foram realizados todos os passos para mover uma amostra para o “forno” adequado ao cozimento, mas os dados de momento são incertos. O COSAC, no entanto, funcionou como o planeado e foi capaz de “cheirar” a atmosfera rarefeita do cometa e detectar as primeiras moléculas orgânicas. A investigação para determinar se os compostos são simples, como metanol ou amónia, ou se são mais complexos, como aminoácidos, está em andamento.

Stephan Ulamec, gestor do Philae, está confiante de que iremos retomar contacto com o Philae em 2015, quando o ângulo do Sol na “pele” do cometa tiver mudado para melhor iluminar os painéis solares do módulo de aterragem. A equipa conseguiu girar o Philae durante a noite de 14 para 15 de Novembro, de modo que o maior painel solar está agora alinhado para o Sol. Uma vantagem deste local à sombra é que o Philae tem menos probabilidade de sobreaquecer à medida que o 67P aproxima-se do Sol, a caminho do periélio durante o ano que vem. Ainda assim, as temperaturas à superfície têm que aquecer antes que a bateria possa ser recarregada.

E tal não vai acontecer até ao próximo Verão.

CCVAlg

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