Num cenário hipotético em que perfurássemos a Terra, através das suas camadas, encontraríamos pressões extremas, temperaturas — e inúmeros desafios.
Embora até agora o conceito apenas tenha sido visto em filmes de ficção científica como “The Core” (2003) e nas novelas de Júlio Verne, a ideia de “perfurar a Terra” tem sido nos últimos anos explorada pelos cientistas, com base em experiências de perfuração existentes.
A Terra tem um diâmetro de 12.756 quilómetros, o que torna a tarefa de a perfurar uma proeza muito, muito difícil — isto, presumindo que o que é impossível hoje, amanhã se faz ao pequeno almoço.
A épica jornada começaria através da crosta terrestre, uma camada com cerca de 100 km de espessura. À medida que avançássemos mais profundamente, a pressão aumenta significativamente: cada 3 metros de rocha equivaleria a uma pressão de 1 ATM, ou 101.325 Pascal.
O buraco mais profundo feito pelo homem, o Poço Super-profundo de Kola, na Rússia, atinge 12,2 km de profundidade, encontrando pressões 4.000 vezes maiores que ao nível do mar.
Ir mais fundo, para o manto e além, seria exponencialmente mais difícil, realça o LiveScience. O manto, uma camada de rocha densa com 2.800 km de espessura, é separado da crosta pela chamada descontinuidade de Mohorovičić, onde se regista uma alteração brusca da velocidade de propagação das ondas sísmicas.
Um dos principais desafios desta empreitada seria impedir que o buraco colapsasse — o que exigiria a bombeamento contínuo de um fluido de perfuração pesado, uma mistura que inclui minerais pesados como bário.
Este fluido desempenharia três funções críticas: equilibrar a pressão, limpar a broca e auxiliar na regulação da temperatura.
A temperatura representa um obstáculo formidável. O manto atinge cerca de 1.410°C, pelo que seria necessária uma broca feita de uma liga especializada, possivelmente de titânio.
Para além do manto encontra-se o núcleo, cuja parte externa é uma mistura fundida de ferro e níquel, atingindo temperaturas entre 4.000°C e 5.000°C.
Perfurar o núcleo apresentaria desafios sem precedentes, desde a natureza líquida do núcleo externo até às imensas pressões no núcleo interno sólido, que tem cerca de 350 milhões de vezes a pressão atmosférica.
Além disso, a influência da gravidade mudaria ao longo da jornada. No centro da Terra, a gravidade seria anulada, criando um efeito semelhante a estar em órbita.
À medida que a broca se move em direção ao outro lado, a gravidade voltaria a exercer uma força para baixo, o que a obrigaria a um esforço adicional para empurrar para cima.
Embora o conceito de perfuração através da Terra seja fascinante, as condições extremas e atuais limitações tecnológicas remetem-no para já aos reinos da ficção científica.
Então, aqui fica para já um trailer do acima referido “The Core“, com Aaron Eckhart e Hillary Swank — que protagonizam dois cientistas que têm que ir às profundezas da Terra fazer um reboot do núcleo, que deixou de rodar…
A descontinuidade de Mohorovicic separa a crosta do manto.
O que separa o manto do núcleo é a descontinuidade de Gutenberg.
Caro leitor,
Obrigado pelo reparo, está corrigido.