A obsessão contemporânea com a maximização da produtividade pode ter um impacto negativo na nossa saúde. O nosso cérebro tem três engrenagens para a produtividade. O ideal é andarmos a uma “produtividade moderada”.
Haverá algo mais entediante do que o esforço interminável para tornar cada momento mais produtivo? É a pergunta levantada pela New Scientist num artigo publicado na semana passada, onde desmistifica “teorias da produtividade”.
Recentemente um “guru” da produtividade revelou na Time um “simples” segredo para poupar 10 horas por ano: “Se eu conseguir poupar dez segundos num processo que acontece dez vezes por dia, isso equivale a um minuto e 40 segundos poupados por dia. Ao longo de um ano, são dez horas poupadas”.
Se, por um lado, isto parece exaustivo ou obsessivo, a boa notícia é que existem muitas razões para não se pôr sob este tipo de pressão.
Como explica a New Scientist, dispomos de um pequeno feixe de neurónios de cor azul no tronco cerebral – chamado locus coeruleus -, que regula a velocidade de processamento cerebral.
De acordo com um novo estudo, detalhado pela revista, estes neurónios funcionam como uma caixa de velocidades com três engrenagens: a primeira permite que a mente pode vagueie livremente; a segunda implica que estejamos altamente empenhados e atentos; e a terceira requer que estejamos hiper-alertas e sejamos rápidos a responder a uma crise.
Várias experiências já demonstraram que a segunda engrenagem, que confere uma “velocidade moderada” ao locus coeruleus, é a ideal para o raciocínio. Esta segunda velocidade aumenta a nossa concentração, permitindo, ao mesmo tempo, o tipo de raciocínio necessário para a resolução de problemas.
Por seu turno, a terceira engrenagem, embora bastante útil em emergências, pode diminuir a habilidade de pensar de forma analítica ou criativa.
O constante esforço para aumentar a produtividade pode prender o cérebro nesta terceira engrenagem, inadvertidamente, prejudicando a qualidade do trabalho a longo prazo, devido ao estado mental “avassalador” que provoca.
Como escreve e New Scientist, pode ser imprudente manter o “motor do pensamento” em altas velocidades continuamente.
Contrariamente ao que muitos conselhos dos “gurus” da produtividade sugerem, períodos de inatividade são essenciais. Além disso, esses períodos podem ser tão produtivos quanto os de atividade intensa, uma vez que permitem o descanso do cérebro.