A “tecnologia da pedra 2.0” foi lançada em Espanha há quase 1 milhão de anos. E já apresentava “um nível sofisticado de previsão e planeamento”.
“O comportamento tecnológico observado em El Barranc de la Boella, Espanha, demonstra avanços tecnológicos significativos e comportamentos de antecipação“, escrevem Diego Lombao e a sua equipa no estudo publicado em agosto na Journal of Paleolithic Archaeology.
Referem-se aos avanços nas ferramentas de pedra levados a cabo num período anterior à divisão evolutiva entre os humanos modernos e os neandertais, pelo que estes avanços nas ferramentas de pedra foram provavelmente criados e utilizados pelos nossos antepassados comuns e por outras espécies humanas agora extintas, conta a Science Alert.
A análise revelou que a forma como as ferramentas eram talhadas seguia uma sequência partilhada, o que implica que os artesãos usavam um modelo comum para obter resultados consistentes.
Estes humanos também produziam ferramentas maiores do que as observadas anteriormente e adaptavam-nas para fins específicos. Em conjunto, estas caraterísticas indicam “um nível sofisticado de previsão e planeamento“.
As mais antigas ferramentas de pedra conhecidas, classificadas como Oldowan ou Modo 1, datam de há quase 3 milhões de anos.
Eram produzidas por antigos hominídeos em África, e eram feitas através de uma pedra que martelava outra. Os fragmentos resultantes tinham arestas afiadas que podiam ser ajustadas por outros golpes.
O que Lombao e os seus colegas descobriram é a mais antiga prova na Europa das técnicas mais sofisticadas do Modo 2 que criam os machados de mão acheulenses.
Estas técnicas foram desenvolvidas com base nos processos do Modo 1, através de um maior refinamento, contam os investigadores, tendo outros materiais como o osso e a madeira para ajudar a aperfeiçoar as lâminas. As ferramentas resultantes eram também mais suscetíveis de serem simétricas.
A Science Alert refere-se a estes grandes avanços tecnológicos como a “tecnologia da pedra 2.0”.
Os humanos que viveram em El Barranc de la Boella durante o Pleistoceno Médio inicial, criaram um processo sofisticado que envolveu o transporte de uma série de materiais locais para criar os seus machados e picaretas em diferentes fases da sua produção”, escreve Lombao
“O Barranc de la Boella é um testemunho único da evolução tecnológica dos hominídeos na Europa, numa época em que as ferramentas não eram apenas utilitárias, mas implicavam também um planeamento sofisticado e uma utilização mais eficiente dos recursos”, conclui.
Ainda assim, este lugar pode não ter sido o primeiro de onde surgiram estas técnicas. “Propomos que El Barranc de la Boella possa representar uma dispersão precoce dos Acheulean de África, há cerca de 1,4 milhões de anos”, escrevem os investigadores.
Ainda assim, contam, “este sítio mostra-nos que a inovação tecnológica não foi linear ou um salto completamente abrupto, mas o resultado de múltiplas vagas de dispersão populacional e da chegada gradual à Europa de novos comportamentos tecnológicos provenientes de África”.