O mistério dos cabos submarinos cortados no Báltico complica-se

Fredrik Larsson / SVT

Cargueiro chinês Yi Peng 3 ancorado no estreito de Kattegat, entre a Suécia e a Dinamarca

Um enorme cargueiro chinês, suspeito de ter cortado intencionalmente um par de cabos de fibra ótica no Mar Báltico, abandonou a zona no meio de uma investigação internacional em curso. E “ninguém acredita que estes cabos tenham sido cortados por acidente”.

Em novembro, a tensão no mar Báltico cresceu após o corte de dois cabos submarinos de fibra ótica que suportam telecomunicações entre Alemanha, Suécia, Finlândia e Lituânia.

Cabos como estes, que são as veias que ligam a Internet global, têm estado no centro de atividades marítimas suspeitas nos últimos anos, que resultaram num aumento das interrupções de serviços e comunicações, recorda o Discover.

Durante meses, o enorme cargueiro chinês Yi Peng 3 permaneceu imóvel no estreito de Kattegat, entre a Suécia e a Dinamarca, sem razão aparente.

Coincidência estranha ou sabotagem? Não há até agora resposta, e o mistério acerca do incidente acaba de se complicar.

Nas últimas semanas, investigadores de vários países abordaram o cargueiro, à procura de pistas sobre o que poderia ter provocado o corte dos cabos. Este sábado, no entanto, o navio chinês começou a dirigir-se para norte, e abandonou o estreito — movimento que foi captado por fotografias de satélite.

Em declarações ao The Guardian, as autoridades suecas, que estavam a liderar a investigação, acusaram as autoridades chinesas de negar o seu pedido mais recente para deixar os procuradores entrarem no navio, apesar de terem concordado anteriormente em cooperar plenamente.

As autoridades chinesas, entretanto, dizem agora que o navio partiu para “assegurar o bem-estar físico e mental da tripulação“.

Navio arrastou âncoras durante mais de 100 milhas

No dia 17 de novembro, uma importante ligação à Internet que liga a Finlândia à Alemanha ficou subitamente fora de serviço. Um dia depois, uma outra ligação próxima, que ligava a Suécia à Lituânia, foi também interrompida.

Os investigadores suecos que analisaram a causa dos cortes de serviço rapidamente atribuíram as falhas a um par de cabos submarinos de fibra ótica cortados.

Há centenas destes cabos nos fundos marinhos de todo o mundo. Coletivamente, estes cabos sustentam a Internet global e são responsáveis por suportar diariamente quase 10 mil milhões de euros em transações financeiras a nível mundial.

Não é invulgar que estes cabos, alguns dos quais têm quase 40 anos, sofram danos — que podem acontecer devido a desgaste dos materiais, a catástrofes naturais, a quedas acidentais de âncoras de navios ou até mordeduras de tubarões.

Mas neste caso particular os investigadores suspeitaram imediatamente que não se tratava de um acidente. As autoridades da Suécia e da Dinamarca apontaram a sua atenção para o Yi Peng 3, um enorme navio chinês que transportava fertilizantes russos.

O navio, de 225 metros de comprimento e operado por uma empresa chamada Ningbo Yipeng Shipping, terá deixado o porto russo de Ust-Luga a 15 de novembro.  Percorreu então quase toda a extensão do Mar Báltico na altura exacta em que os dois cabos foram cortados.

Foi então ordenada a paragem do navio para permitir a entrada a bordo de uma equipa de investigadores da Suécia, Dinamarca, Finlândia e Alemanha.

Uma investigação inicial efetuada por funcionários suecos, inicialmente relatada pelo The Wall Street Journal, afirma que o transponder do navio se terá desligado na mesma altura em que se verificaram as falhas na Internet. O navio terá então arrastado a sua âncora durante 100 milhas no fundo do mar.

Durante esse tempo, o navio continuou a viajar — apesar de a sua âncora ter abrandado consideravelmente a sua velocidade, o que torna improvável o seu lançamento “acidental”.

Ninguém acredita que estes cabos tenham sido cortados por acidente“, disse o Ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, ao The New York Times.

Em vez disso, os investigadores suspeitam que o capitão do navio poderá ter recebido instruções de oficiais dos serviços secretos russos. Um porta-voz do gabinete de imprensa do Kremlin refutou esta teoria, considerando tais acusações “absurdas e sem fundamento”.

Danos misteriosos nos cabos estão a aumentar

O corte do cabo surge no meio de um aumento de actividades suspeitas perto de cabos submarinos nos últimos anos.

Na primavera, as autoridades de Taiwan acusaram a China de ter intencionalmente dirigido navios para cortar dois cabos submarinos que ligam as ilhas Mastu ao resto do mundo. A China negou essas alegações.

Pouco tempo depois, procuradores estónios alegaram que um contentor registado em Hong Kong, denominado “Newnew Polar Bear“, danificou um par de cabos submarinos que ligavam a Estónia à Finlândia. Uma investigação encontrou uma âncora no fundo do mar, que as autoridades dizem ter pertencido ao navio chinês.

Intencionais ou não, estes danos provocaram um interesse renovado dos países de todo o mundo em reforçar a segurança dos cabos.

Dezasseis países, incluindo os EUA, Austrália, Canadá, Finlândia, França e Japão, assinaram uma declaração conjunta das Nações Unidas no início deste ano, apelando a uma “abordagem global partilhada” para melhorar a fiabilidade, interoperabilidade e reparabilidade dos cabos submarinos.

Apenas alguns dias após os mais recentes cortes de cabos, a Dinamarca juntou o seu nome a essa declaração.

Estes esforços internacionais podem ajudar a evitar danos futuros, mas a partida abrupta do Yi Peng 3 do Mar Báltico significa que talvez nunca venhamos a saber se este caso mais recente de cabos de comunicações cortados foi ou não intencional.

ZAP //

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