O Irão está perto de ter uma bomba atómica? E Israel, que não diz se tem ou não armas nucleares?

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Abedin Taherkenareh / EPA

Qual é o perigo real do rico urânio iraniano? Teerão garante que o seu programa tem fins pacíficos, Israel atacou o país como nunca por temer bomba nuclear, mas nunca reconheceu nem negou a existência do seu arsenal nuclear.

O conflito em curso entre Israel e o Irão começou na sexta-feira passada, após uma rápida escalada de tensões que tem a capacidade nuclear iraniana em cima da mesa. Numa primeira vaga de ataques, o governo israelita mirou instalações de enriquecimento de urânio e argumentou que o regime em Teerão estaria próximo de desenvolver uma bomba nuclear.

Os ataques deram-se no decorrer de negociações entre o país persa e os Estados Unidos para redesenhar um acordo nuclear e impedir o desenvolvimento de armamento desse tipo, conversações que agora estão em stand-by.

Embora Teerão insista que o seu programa nuclear tem fins puramente civis, organizações como a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) têm alertado para o avanço acelerado do enriquecimento de urânio em diversos centros nucleares no país.

Alguns desses centros foram atingidos por mísseis israelitas. O Irão confirmou danos nas instalações nucleares de Fordow, a sul da capital, e de Isfahan. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirma que o programa nuclear iraniano representa uma ameaça existencial para Israel.

Quão avançado está o programa nuclear do Irão?

Existem dois tipos de programas nucleares: civil e militar. Os programas civis são dedicados exclusivamente a centrais nucleares com o objetivo de gerar eletricidade, enquanto os militares têm como meta a produção de bombas atómicas. O regime iraniano afirma que o seu programa nuclear tem carácter exclusivamente civil.

Muitos especialistas e agências de inteligência ocidentais concordam que, atualmente, o Irão não está a construir uma arma nuclear. No entanto, o avanço nos níveis de enriquecimento de urânio do Irão indica que pode haver esse objetivo e é motivo de preocupação.

Segundo a AIEA, em três meses, a República Islâmica duplicou o seu stock de urânio enriquecido a 60% de pureza, atingindo os 409 quilos produzidos. Esse nível de enriquecimento encontra-se muito acima do necessário para produção de energia civil e aproxima-se do grau militar. Cerca de 42 quilos seriam suficientes para produzir uma bomba nuclear, caso esse urânio fosse enriquecido a 90%.

A Europa e os Estados Unidos argumentam que não há razões civis para enriquecer urânio a 60%. De facto, países que chegaram a esse patamar tornaram-se produtores de bombas.

Vantagem na negociação ou caminho para bomba?

“Como confirmado pela AIEA, o Irão acelerou o seu enriquecimento para 60%, além de um aumento nos testes de mísseis”, afirmou Hans Jakob Schindler, especialista em segurança do Counter Extremism Project, à DW.

Para si, isso pode indicar uma tentativa do país de obter vantagem nas negociações com os EUA. “Mas também é possível interpretar que [Teerão] está a correr em direção a uma bomba nuclear”, disse.

As negociações entre Irão e EUA estavam previstas para continuar em Omã, mas foram suspensas devido à recente escalada. Antes do início do bombardeamento israelita, o Irão anunciou um novo centro de enriquecimento de urânio em retaliação a uma censura proposta pela AIEA contra o seu programa nuclear – a primeira sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) em 20 anos.

Atualmente, não há evidências de que o país tenha conseguido enriquecer o seu urânio a 90%. No entanto, especialistas alertam que, dada a quantidade de material acumulado e a sua capacidade técnica, o Irão poderia atingir esse patamar de forma relativamente rápida.

Além disso, o país também precisaria desenvolver uma ogiva funcional e um míssil capaz de a transportar. Israel alega que identificou avanços do regime iraniano para obter um núcleo de urânio metálico e um iniciador para desencadear uma explosão nuclear.

Programa recuou após ataques?

Nos seus ataques, Israel mirou não apenas instalações nucleares, mas também membros da liderança militar iraniana e cientistas envolvidos no programa nuclear. Imagens de satélite indicam diferentes níveis de destruição em duas instalações-chave de investigação e enriquecimento em Natanz e Isfahan. A AIEA confirmou danos em ambas.

A agência atómica do Irão reconheceu que houve danos também no centro nuclear de Fordow, a sul da capital. A extensão total da destruição ainda é incerta.

Walter Posch, especialista em Irão do Instituto de Apoio à Paz e Gestão de Conflitos de Viena, disse à DW que o impacto geral foi grave para o Irão.

“Mais importante do que os generais mortos são, certamente, os cientistas nucleares, que acompanham o programa [nuclear] desde o início e detêm todo o conhecimento institucional”, explicou. Segundo a Reuters, pelo menos 14 cientistas nucleares iranianos morreram até então em ataques de Israel. “Eles desempenham um papel fundamental. Ao nível da experiência académica e do conhecimento prático, este é um golpe sério.”

Além das instalações nucleares e das elites militares e científicas, bases de mísseis e refinarias de petróleo também estiveram entre os alvos dos bombardeamentos.

Por que razão o Irão quer um programa nuclear?

O programa nuclear iraniano remonta à década de 1950, quando o então governo pró-Ocidente começou a desenvolver um programa civil com a ajuda dos EUA. Após a Revolução Iraniana de 1979, que colocou no poder um governo fundamentalista, aumentaram as preocupações internacionais de que Teerão poderia utilizar o programa nuclear para fins militares.

Em 2002, inspetores internacionais descobriram urânio altamente enriquecido na instalação nuclear de Natanz, o que levou à imposição de sanções internacionais. Em 2015, o Irão firmou um acordo histórico com os EUA e outros países ocidentais, conhecido como Plano Global de Ação Conjunta. O acordo limitava o programa nuclear iraniano e impunha controlos rígidos em troca do alívio de sanções.

No entanto, o presidente dos EUA, Donald Trump, retirou o país do pacto em 2018, durante o seu primeiro mandato, e impôs novas sanções.

Em resposta, o Irão reduziu gradualmente a implementação do acordo e aumentou o seu nível de enriquecimento de urânio, ultrapassando o limite de 3,67% definido pelas potências ocidentais.

E Israel? Ninguém sabe ao certo. Porquê?

Mas se o Irão tem o seu programa nuclear na mira de Israel e do mundo, Israel nunca reconheceu nem negou, até hoje, a existência do seu arsenal nuclear, embora vários grupos e organizações garantam que ele existe e que Israel tem cerca de 90 armas nucleares, mas o número pode estender-se a 400.

Israel é também o único país do Médio Oriente a não ter assinado o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Tal como a Coreia do Norte, Sudão do Sul e — como fomos relembrados muito recentemente pelas piores razões — a Índia e o Paquistão.

E apesar de manter esta política deliberada de ambiguidade em relação a armas nucleares, Israel ameaça os seus inimigos com elas.

Ainda em novembro passado, o ministro israelita Amihai Eliyahu disse que um ataque nuclear a Gaza seria uma forma de resposta ao ataque do Hamas a Israel de 7 de outubro. Terá sido a declaração uma confirmação de que Israel tem capacidade nuclear atualmente?

ZAP // DW

2 Comments

  1. Não é apenas o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que afirma que o programa nuclear iraniano representa uma ameaça existencial para Israel. É o próprio Irão que o diz. O Irão sempre foi muito explícito que tem como objetivo a destruição total de Israel, tal como os grupos terroristas que apoia.

  2. E Israel? Rumores falam umas 90, se é verdade… Mas nunca ouvimos Israel ter um comportamento como a Russia, Coreia do Norte e Irão (que ainda nem tinha) de ameaçar tudo e todos que ia usar assim que as tivessem. Já agora Europa estava na lista negra do Irão

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