O fim do “Made in China” seria trágico para os europeus

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Os empresários alertam que o fim do “Made in China” acarretaria “altos custos” para os consumidores europeus. A superpotência asiática tem vantagens únicas a nível de infraestruturas, tecnologia e capacidade de produzir em volume.

Duas vezes por ano, fabricantes chineses de produtos não-alimentares expõem na Feira de Cantão milhões de produtos, desde bicicletas a utensílios de cozinha.

A feira faz-se na capital de Guangdong, a próspera província do sul da China, conhecida como “fábrica do mundo”.

A primeira edição remonta a 1957, mas foi só nas últimas décadas que a Feira de Cantão se converteu num dos maiores eventos comerciais do mundo, à medida que a China assumiu um papel central nas cadeias de distribuição globais.

As perturbações causadas pela covid-19 e pela invasão russa da Ucrânia suscitaram, porém, um debate nos Estados Unidos e na Europa sobre a necessidade de diversificar relações comerciais.

Tiago Mateus, responsável pelas aquisições na China da Joinco, fornecedora do grupo retalhista Jerónimo Martins, é um de dezenas de milhares de importadores estrangeiros que acorreram à Feira de Cantão, e, em declarações à Lusa, alertou que o fim do “Made in China” teria altos custos para os europeus.

“Vários países perceberam que existe uma forte dependência e que, acontecendo alguma coisa na China, todos sofrem“, descreveu Tiago Mateus.

Steve Hoffman, presidente executivo da Founders Space, uma das principais incubadoras e aceleradoras de startups do mundo, com sede em São Francisco, na Califórnia, concordou: “Em termos económicos uma fragmentação nos laços comerciais com a China não faz sentido nenhum“.

Em entrevista à Lusa, o especialista alertou ainda para os riscos políticos de um ‘divórcio’ com a China.

“Quando a interdependência é total, ninguém quer agitar as águas”, descreveu. “As tensões geopolíticas vão sempre existir”, notou. “Mas, se a tua economia depende dos outros, vai existir sempre muita pressão para não exacerbares essas tensões“.

Hoffman admitiu que o executivo norte-americano “está sob pressão das suas empresas – Microsoft, Apple ou Intel -, que não querem reduzir a sua exposição à China”. Em causa, estão condições muito difíceis de replicar noutras partes do mundo.

Made in China sem igual

A China possui a rede ferroviária de alta velocidade mais extensa do mundo, sete dos 10 maiores portos do planeta, abundante mão-de-obra especializada, um controlo vertical sobre as cadeias de fornecimento, desde o acesso facilitado a matérias-primas, ao fabrico de componentes e à montagem final, e capacidade para produzir em grande escala.

Tem também termos de pagamento “muito atraentes” para clientes estrangeiros e centros de arbitragem “eficazes” em caso de disputa são outras das vantagens apontadas.

“Seriam precisas várias décadas para replicar este modelo em outro lugar”, admitiu Tiago Mateus.

Vietname “tenta” replicar

Com cerca de 100 milhões de habitantes e uma localização costeira, o Vietname posicionou-se como favorito para absorver indústria de mão-de-obra intensiva, incluindo vestuário, móveis ou produtos eletrónicos.

Denis Almeida, importador brasileiro de calçado que deixou Cantão em 2019 para se instalar em Ho Chi Minh, no sul do Vietname, explicou à Lusa, no entanto, que a escala e recursos laborais do país do sudeste asiático ficam “muito aquém” dos da China.

Em causa estão cadeias de fornecimento menos maduras e o aumento repentino da procura por mão-de-obra, explicou.

“A força de trabalho no Vietname é, embora grande, ainda limitada, e uma empresa que possa oferecer um salário mais elevado absorve os trabalhadores”, frisou.

A China detém ainda um mercado consumidor composto por 1,4 mil milhões de pessoas: o país é, assim, em simultâneo, o maior produtor e principal mercado para os iPhones da norte-americana Apple, por exemplo. Várias outras marcas internacionais enfrentam igual dependência.

ZAP // Lusa

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3 Comments

  1. Pois, contrariamente ao que o funcionário da JM diz, eu dou importância a produtos não fabricados na China ou Ásia. Aliás, sempre que possível, descarto esses produtos. Mesmo marcas portuguesas, por exemplo TIFFOSI, GIOVANNI GALLI ou MO (roupa), procuro a etiqueta. Diz “Designed in Portugal; Made in Bangladesh / China / Vietnam / etc”. Fica na loja. O único propósito é maximizar os proveitos para a marca, e não reduzir o preço ao consumidor. Com tantas fábricas de vestuário no país, estas marcas de roupa têm de ir comprar à Ásia, para quê? Da minha parte, é esquecer.
    Quanto a artigos de tecnologia, marcas adquiridas são ocidentais, de preferência produzidas e/ou montadas na Europa.

  2. o que é que esperam das opiniões dos importadores de produtos chineses?Fedchem a “torneira”á China e vamos ver quem geme!!!!!

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