Uma equipa de investigadores simulou 100 mil futuros distintos, que mostram o que pode acontecer em diferentes cenários climáticos.
O filme “O Feitiço do Tempo”, de 1993, protagonizado por Bill Murray e Andie MacDowell, conta a história de um meteorologista fica preso numa armadilha temporal que o faz reviver o mesmo dia vezes sem fim.
Embora no começo aproveite para agir de forma irresponsável, acaba por aproveitar a oportunidade para melhorar como pessoa e, derradeiramente, conquistar sua amada.
Um pouco como neste clássico do cinema, uma equipa de cientistas simulou 100 mil futuros climáticos diferentes para tentar perceber como é que nós próprios podemos melhorar e que consequências as nossas ações podem ter.
A modelagem preditiva é a única coisa que pode aproximar-nos remotamente do enredo de “O Feitiço do Tempo”. Desta forma, os investigadores podem tentar identificar os fatores que podem fazer a diferença na luta climática.
Como realça o ScienceAlert, numa altura em que estamos aquém do cumprimento do Acordo de Paris e as emissões de dióxido de carbono continuam acima do desejado, encontrar estes pontos-chave é mais importante agora do que nunca.
A maioria das modelagens climáticas até hoje concentrou-se em aspetos técnicos. Estudos anteriores demonstraram que temos os recursos necessários para fazer as mudanças, mas o progresso é abafado por outros fatos desvalorizados pela modelagem preditiva.
Neste estudo, as diferentes simulações até ao ano 2100 tiveram em consideração fatores sociais, económicos e políticos.
“Estamos a tentar entender o que há nesses sistemas sócio-político-técnicos fundamentais que determinam as emissões”, diz Frances Moore, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
Os cientistas sugerem que este “sinal emergente de alterações climáticas na experiência quotidiana de clima das pessoas pode levar a um amplo reconhecimento da existência do aquecimento global”. Consequentemente, pode fazer com que as pessoas apoiem políticas ambientais.
Num estudo anterior, Moore já tinha percebido as pessoas tendem a comparar as anomalias climáticas atuais com o que se lembram dos últimos oito anos. Isto faz com que o termo de comparação mude de pessoa para pessoa e ao longo do tempo.
Para os investigadores, fatores sociais, económicos e políticos são de igual importância, visto que “quase todos os nossos aglomerados identificados têm parâmetros distintos de mais de uma área”, escrevem os autores.
Mais de 90% das simulações mostraram que estamos pelo menos no caminho certo para reduzir pelo menos 0,5ºC o cenário de 3,9°C de aquecimento.
No entanto, nos piores cenários, “as populações são altamente fragmentadas pela opinião política, impedindo a difusão do apoio às políticas climáticas”.
Como outros estudos já sugeriram, as simulações mostram que é altamente improvável que possamos permanecer abaixo de 1,5°C, mesmo num ‘cenário de ação agressiva’.
Ainda assim, os cenários futuros demonstram que ainda é possível manter as emissões abaixo de 2°C.
Em 30% dos cenários, “a rápida difusão do apoio às políticas climáticas leva a um rápido aumento na ambição política na década de 2020”, levando a uma redução das emissões globais para zero até 2060.
“Compreender como é que as sociedades respondem às alterações ambientais e como é que as políticas surgem dos sistemas sociais e políticos é uma questão-chave na ciência da sustentabilidade”, argumenta Moore.
Os resultados do estudo foram publicados, na semana passada, na revista científica Nature.