Segundo um novo estudo da Universidade de Washington, o carbono nos nossos corpos provavelmente deixou a nossa galáxia — e regressou depois, numa viagem num “tapete rolante” cósmico.
A vida na Terra não poderia existir sem carbono. Mas o próprio carbono não poderia existir sem as estrelas.
Quase todos os elementos, com exceção do hidrogénio e do hélio — incluindo o carbono, o oxigénio e o ferro — só existem porque foram forjados em fornos estelares e mais tarde atirados para o cosmos quando as suas estrelas morreram.
Num ato final de reciclagem galáctica, planetas como o nosso são formados pela incorporação destes átomos estelares na sua constituição, seja o ferro no núcleo da Terra, o oxigénio na sua atmosfera ou o carbono nos corpos dos terráqueos.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, confirmou recentemente que o carbono e outros átomos formados nas estrelas não andam à deriva no espaço até serem arrastados para novas utilizações.
A descoberta foi apresentada num artigo publicado a 27 de dezembro no Astrophysical Journal Letters.
Para galáxias como a nossa, que ainda estão ativamente a formar novas estrelas, estes átomos fazem uma viagem tortuosa. Circundam a sua galáxia de origem em correntes gigantes que se estendem até ao espaço intergaláctico.
Estas correntes cósmicas, conhecidas como meio circungaláctico, assemelham-se a tapetes rolantes gigantes que empurram a matéria para fora e a atraem de volta para o interior da galáxia, onde a gravidade e outras forças podem reunir estas matérias-primas em planetas, luas, asteróides, cometas e mesmo novas estrelas.
“Pense no meio circungaláctico como uma estação de comboios gigante: Está constantemente a empurrar material para fora e a puxá-lo para dentro”, disse Samantha Garza, investigadora da U.Washington e autora principal do estudo, em comunicado da universidade.
Segundo a astrónoma norte-americana, os elementos pesados que as estrelas produzem são empurrados para fora da sua galáxia hospedeira e para o meio circungaláctico através da morte explosiva das supernovas, onde podem eventualmente ser puxados de volta e continuar o ciclo de formação de estrelas e planetas.
“As implicações para a evolução das galáxias e para a natureza do reservatório de carbono disponível para as galáxias formarem novas estrelas são excitantes”, explica Jessica Werk, professora da UW e co-autora do estudo.
“O carbono que temos nos nossos corpos passou muito provavelmente uma quantidade significativa de tempo fora da galáxia!”, acrescenta.
Em 2011, uma equipa de cientistas confirmou pela primeira vez a teoria de longa data de que as galáxias formadoras de estrelas como a nossa estão rodeadas por um meio circungaláctico — e que esta grande nuvem de material em circulação inclui gases quentes enriquecidos em oxigénio.
Garza, Werk e os seus colegas descobriram que o meio circungaláctico das galáxias em formação estelar também circula material de baixa temperatura, como o carbono.
“Podemos agora confirmar que o meio circungaláctico atua como um reservatório gigante tanto para o carbono como para o oxigénio”, explica Garza. “E, pelo menos nas galáxias de formação estelar, este material cai de novo na galáxia para continuar o processo de reciclagem“.
O estudo do meio circungaláctico pode ajudar os cientistas a compreender como é que este processo de reciclagem diminui, o que acabará por acontecer em todas as galáxias — mesmo na nossa.
Uma teoria é que o abrandamento ou a quebra da contribuição do meio circungaláctico para o processo de reciclagem pode explicar porque é que as populações estelares de uma galáxia diminuem durante longos períodos de tempo.
“Se conseguirmos manter o ciclo — empurrando material para fora e puxando-o de novo para dentro — então, teoricamente, temos combustível suficiente para manter a formação estelar”, conclui Garza.