O cancro do pâncreas, a terceira causa de morte por cancro na Europa e o tumor digestivo com pior prognóstico, ocorre quando se formam células malignas no tecido pancreático. Num novo estudo, um investigador português descobriu que as células pancreáticas cancerígenas parecem ter-se “esquecido” de quem são.
Uma equipa de cientistas sugere que cerca de um em cada 10 casos apresentam uma característica peculiar pelo facto de algumas células pancreáticas parecerem ter perdido a sua identidade.
Num novo estudo, publicado esta segunda-feira na Nature Genetics, os investigadores analisaram a proteína MED12 e descobriram que a mesma pode desempenhar um papel fundamental nesta doença mortal.
“Isto é muito invulgar. Vemos o cancro do pâncreas, que normalmente se assemelha um pouco ao órgão original, perder essas características e tornar-se semelhante à pele ou ao esófago — estes outros tecidos muito diferentes”, explica o primeiro autor do estudo, Diogo Maia-Silva, formado em medicina pela Universidade de Lisboa.
Segundo o EurekAlert!, os cientistas já tinham descoberto que a proteína p63 é importante para a formação de células basais normais — pequenas células na parte externa da epiderme e que esta proteína pode fazer com que o cancro do pâncreas se torne basal.
No presente estudo, os investigadores desenvolveram um método para analisar todo o genoma das células cancerígenas do tipo basal e, assim, classificar os genes mais importantes para manter a sua nova identidade.
Em todos os testes, o gene MED12 ficou em primeiro lugar. Este gene contém a forma de produzir a proteína, uma das cerca de 25 que fazem parte de um complexo que regula a atividade dos genes.
“Isso foi muito inesperado, porque faz parte deste complexo alargado, mas os outros membros do complexo não apareceram. Apesar de fazer parte da célula MED12, tem alguma propriedade única que o torna mais importante para a biologia basal”, acrescenta Maia-Silva.
Outros testes mostraram também que o MED12 e o p63 se ligam diretamente um ao outro, o que sugere que cada um deles pode ser necessário para tornar as células pancreáticas basais.
Os cientistas esperam agora conseguir descobrir como acontece esta interação, de modo a evitar que o cancro do pâncreas se torne basal. No entanto, ainda há um grande caminho a percorrer.