Mal vê uma ameaça, o “sedoso” comedor de formigas, do tamanho de uma bola de ténis, levanta as patinhas para se defender, como se fosse um boxer. Flávia Miranda já tinha descoberto sete espécies — agora pode haver mais uma, isolada há 11 mil anos.
Depois de algumas visitas ao Delta do Parnaíba, localizado cerca de 280 quilómetros a leste de São Luís na costa atlântica do Brasil, a especialista em medicina de conservação na Universidade Estadual de Santa Cruz no Brasil Flávia Miranda sugere que podemos estar perante uma oitava espécie de tamanduá, mamífero encontrado na América do Sul.
O tamanduá-seda, o mais pequeno da sua espécie, evoluiu entre 30 e 40 milhões de anos atrás e leva geralmente uma vida solitária e noturna em florestas tropicais de baixa altitude. Mal vê uma ameaça, o “sedoso” comedor de formigas, do tamanho de uma bola de ténis, levanta as patinhas para se defender, como se fosse um boxer.
Durante muito tempo, acreditou-se que os pequenos mamíferos pertenciam a uma única espécie, até que a análise de ADN da autoria de Miranda, em 2017, indicou sete espécies distintas nas Américas. Agora, uma população única no Delta do Parnaíba pode mesmo constituir uma oitava espécie.
Flávia Miranda é presidente do Instituto Tamanduá,
é uma das primeiras medicas veterinárias de campo no Brasil, tem mais de 20 anos de trabalho em prol da conservação dos Xenartros.Nos últimos anos tem se dedicado à pesquisa e conservação do tamanduaí (esse das fotos) pic.twitter.com/GPvEIFQavD
— Adriana Lippi ⭐Contra o Marco Temporal (@drilippi) March 9, 2023
Esta população isolada de tamanduás-seda reside a milhares de quilómetros de distância dos seus parentes mais próximos, encontrados na Bacia Amazónica e na costa sudeste atlântica do Brasil. Miranda acredita que estes tamanduás do Delta possam viver isolados já há 11 mil anos, quando a floresta amazónica se estendia até esta área.
Estudos genéticos apontam para cerca de dois milhões de anos de divergência entre esta população do delta e outras espécies conhecidas de tamanduás-seda, embora Miranda ainda esteja a meio do processo de confirmar estas descobertas através de medições físicas adicionais e amostras de sangue.
Apesar destas descobertas inovadoras, o Delta do Parnaíba está a tornar-se cada vez mais um refúgio inseguro para a sua fauna. A comunidade local colhe as florestas de mangue para vários fins, como habitação e vedação. O pasto excessivo de vacas e porcos agrava ainda mais o problema, afetando as árvores mais jovens.
Em resposta à ameaça, Miranda iniciou um projeto de reflorestação comunitária em 2011. A iniciativa está, segundo a Hakai Magazine, a ter sucesso e beneficia não só os mangues, mas também os tamanduás-seda e outros animais selvagens que habitam a área.
As alterações climáticas e o aumento do nível do mar apresentam ainda mais desafios para a comunidade e para o seu frágil ecossistema.