Nuno Melo arrasou direção do CDS e foi às jornadas dizer: “Eu estou cá”

Estela Silva / Lusa

O eurodeputado Nuno Melo, do CDS-PP

O eurodeputado Nuno Melo marcou presença nas jornadas parlamentares do CDS-PP, em São João da Madeira, e acusou a atual direção do partido de “entrincheiramento” e de “atacar os seus”.

Telmo Correia tinha afastado a possibilidade de discussão de questões internas do partido nas jornadas desta segunda e terça-feira, indicando que esses assuntos são debatidos nos locais próprios. Mas foi mais forte do que Nuno Melo.

“Eu não me tinha na conta de oposição, mas há momentos em que as reflexões têm de ser feitas e, quando se fala no papel da oposição, não posso falar só para fora mas também tenho de falar para dentro”, começou por dizer o eurodeputado, citado pelo Expresso.

Em tom de aviso e como quem prepara terreno, afirmou: “Vou dizer o que acho que tem de ser dito e, se no final for interpretado como oposição, que seja.”

O centrista começou pelas farpas ao PS e à governação socialista, acabando por estender as críticas à restante oposição.

“Seria suposto que um Governo que é nepotista nas escolas, dogmático nas ideologias, conflituoso no relacionamento, incompetente nos casos, tivesse oposições mais capaz. Mas, à exceção do grupo parlamentar do CDS, noto-as pouco. Há qualquer coisa que não está a correr bem no universo da oposição à direita do PS”, frisou.

“Quando se falha tanto, quando a realidade é esta, quando o Governo é mau, muito mau mesmo, era suposto que a oposição se notasse mais.” Mas, na ótica de Melo, nem Rui Rio nem Francisco Rodrigues dos Santos se fazem notar.

O discurso voltou-se então para dentro, com Nuno Melo a salientar que há um “entricheiramento diretivo” na atual direção do CDS-PP.

“Um partido não pode desvalorizar a saída de militantes, um partido não pode estar concentrado em ajustes de contas e em purgas para dentro apenas com a intenção de ser eficaz para fora. O esforço de agregar num partido tem de nascer do topo para a base, ainda para mais quando o CDS chegou ao estado em que chegou e que todos desejamos que consiga superar”, afirmou.

Ao não conseguir agregar o melhor das tendências internas (liberais, conservadores, democratas-cristãos), Rodrigues dos Santos está a condenar o CDS ao “definhamento”.

“Senti-me ofendido”

Na semana passada, Margarida Bentes Penedo, dirigente afeta à atual direção e deputada municipal em Lisboa, escreveu um artigo de opinião, publicado no Observador, no qual salienta que há dois CDS: um (o atual) que combate o socialismo e o anterior que saiu derrotado do último congresso.

“Senti-me ofendido”, reagiu Nuno Melo. “Eu, que nunca fiz outra coisa senão combater o socialismo.”

“Quem diz uma coisa destas não pode perceber nada do que está a acontecer à sua volta – muitos dos que aqui estamos já combatíamos o socialismo quando muitos dos que hoje nos atacam sem necessidade nenhuma ainda estavam sentados nos bancos da escola”, afirmou, sublinhando que a afirmação é sobretudo injusta para “a própria Assunção Cristas“, por ter sido tantas vezes acusada de ser demasiado dura com António Costa.

Em jeito de conclusão, disse: “a depressão tem de dar lugar à alegria e nós temos de fazer parte desse esforço. Não desistam, não deprimam, não baixem os braços e lutem.”

O apelo estava lançado. “Não sei o que a autora daquela artigo queria, mas se queria que fossemos embora, então só posso dizer que, no que tenha que ver comigo, desengane-se. Enquanto tiver de ser, eu estou cá“.