Patricia de Melo Moreira / AFP
Apesar dos números expressivos, este fenómeno não é inesperado, já que muitos os profissionais adiaram a sua aposentação durante a pandemia.
Em 2022, o número de saídas de clínicos do Serviço Nacional de Saúde deverá bater o recorde da última década, ultrapassando o máximo estabelecido em 2014, após a passagem da troika pelo país. Nesse mesmo ano, lembra o jornal Público, a idade legal da reforma subiu para os 65 anos, o que antecipou a saída de muitos profissionais, de forma a não serem penalizados.
Atualmente, e de acordo com dados fornecidos pela Administração Central do Sistema de Saúde, reformaram-se, até novembro, 726 médicos especialistas, os quais, somados aos que constam na lista da Caixa Geral de Aposentações a partir de dezembro, 56, atingem quase as oito centenas.
Apesar dos números expressivos, este fenómeno não é inesperado, já que muitos os profissionais adiaram a sua aposentação durante os dois anos de pandemia da covid-19. “Muitos médicos de família continuam a trabalhar até aos 70 anos e é isso que nos tem ajudado”, descreve João Rodrigues, responsável por coordenar o grupo de trabalho que prepara a reforma dos cuidados de saúde primários.
No início do ano, João Rodrigues já havia alertado para o facto de haver mais de mil médicos de família em condições de sair dos centros de saúde, aos que se juntam, novamente, os que já tinham atingido ou atingiam a idade legal de reforma. Os adiamentos de aposentadoria tornam difíceis os cálculos que permitem aferir as saídas e, consequentemente, a preparação de soluções.
Os dados de 2022 também permitem concluir que, há semelhança dos dois últimos, muitos médicos terão adiado a reforma, pelo que um pico pode estar a formar-se. Segundo a mesma fonte, os próximos dois a três anos prometem sem complicados, sobretudo na especialidade de medicina geral e familiar, estimando-se que só aí as entradas de novos especialistas comecem a compensar as saídas a partir dessa data.
