Ponto de viragem na guerra: o novo plano de Israel para ocupar Gaza

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Haitham Imad / EPA

Palestinianos deslocados em Khan Younis, sul da Faixa de Gaza.

A estratégia mudou. Israel não vai “entrar e sair”: vai permanecer na Faixa de Gaza para impedir reorganização do Hamas.

No final deste mês, milhares de soldados israelitas vão para Gaza com o objetivo de tomar o controlo total da faixa, deslocar forçadamente a sua população, desmantelar o grupo terrorista Hamas e libertar os reféns lá mantidos.

A “conquista” e ocupação do território que é — ou era — a casa de 2,3 milhões de pessoas foi aprovada pelo gabinete de segurança de Israel esta semana, sob o nome de “Operation Gideon’s Chariots” (“Operação Carruagens de Gideão”).

A estratégia é diferente desta vez: Israel não planeia atacar alvos do Hamas e recuar de seguida, mas sim ficar no local para impedir a organização do grupo terrorista que controla a faixa, onde já morreram mais de 52 mil palestinianos, na maioria civis, nomeadamente mulheres e crianças. Agora, as forças israelitas “permanecerão em qualquer área conquistada”.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também não entrou em detalhes. “Não vamos entrar e sair, limitarmo-nos a convocar reservas para que venham e tomem o território. Retiramo-nos do território e realizamos incursões no que resta. (…) Não é essa a intenção. Qual é a nossa intenção? O oposto.”, afirmou no X.

“Vamos finalmente ocupar a Faixa de Gaza”, disse o ministro das Finanças, de extrema direita, Bezalel Smotrich, sem especificar quanto tempo duraria a ocupação.

O plano vai para a frente se o grupo não se chegar a um acordo para cessar-fogo até ao final da visita do presidente norte-americano Donald Trump ao Médio Oriente, este mês, dizem as autoridades israelitas. Israel espera que esta nova estratégia alcance os objetivos que a primeira fase da guerra não conseguiu atingir em 19 meses, que não derrubou o regime do Hamas na totalidade nem garantiu a libertação de 59 reféns que ainda estão sob a alçada do grupo terrorista — sendo que apenas 24 estarão ainda vivos.

Mas algo permanece igual em relação às outras fases da guerra: a população de Gaza será novamente forçada a ir para outro lado, por caminhos cada vez mais apertados.

A Faixa de Gaza será “totalmente destruída” e o povo começará a “sair em grande número para países terceiros”, a sul, para “uma zona estabelecida onde o Hamas e o terrorismo não estejam presentes”, garantia Smotrich no início desta semana: “A vitória de Israel significa a destruição total do território”.

Funcionários das Nações Unidas descrevem o plano de “transferência voluntária” como limpeza étnica. O  direito internacional diz que o deslocamento forçado de civis durante conflitos armados é um crime de guerra.

Israel não esclareceu o que acontecerá às pessoas que não possam ou não queiram sair da Faixa. Nos primeiros meses da guerra, quase 90% da população foi deslocada por ordem das IDF, a maioria para tendas do sul de Gaza, onde permaneceram até ao cessar-fogo de janeiro. Nessa altura, regressaram a uma casa que deixou de o ser — a maioria das habitações estava totalmente destruída ou gravemente danificada.

Desde o início de março que Israel não permite a entrada de qualquer ajuda em Gaza, desde alimentos a medicação ou bens fundamentais. Tudo está a esgotar e os preços a disparar. Esta semana, 3000 camiões carregados com ajuda humanitária estavam parados à porta de Gaza, na fronteira com o Egito, enquanto se morre à fome no palco da guerra.

Israel também anunciou esta semana um novo mecanismo para a distribuição de ajuda em Gaza, mas não entrou em detalhes. Só tem reforçado que o objetivo é impedir que o Hamas desvie estas ajudas para os seus militares.

Tomás Guimarães, ZAP //

2 Comments

  1. É em alturas destes que eu desejo que realmente exista um Deus que tratará do destino final de Netanyahu e os seus comparsas nazi.

  2. A Autoridade Palestiniana não é autoridade nenhuma, É uma farsa. Se fossem competentes faziam um acordo com Israel, comprometendo-se este a não tomar Gaza se os palestinianos se comprometessem a irradicar de vez e totalmente, o Hamas desse território.

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