O Novo Banco fechou os primeiros nove meses do ano com um agravamento do seu resultado negativo, passando de uma perda de 390,9 milhões de euros registada em setembro do ano passado, para um prejuízo de 572,3 milhões.
Segundo noticiou o Público, citando a agência Lusa, este desempenho da equipa liderada por António Ramalho é explicada pelo legado do BES, que foi separado numa unidade específica e que gerou uma perda de 712 milhões de euros.
A atividade recorrente, isto é, a operação do banco excluindo os ativos relacionados com o legado do BES, saldou-se por um resultado positivo de 140 milhões de euros.
Segundo explicou em comunicado, nos primeiros nove meses do ano, o Novo Banco registou perdas relacionadas com o “processo de restruturação e desalavancagem de ativos não produtivos”, designadamente os projetos Sertorius, Albatros e NATA II, e “o processo de venda da GNB Vida, cujo impacto negativo ascendeu a 391 milhões de euros”.
O Novo Banco adiantou igualmente, no comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que o montante a pedir ao Fundo de Resolução no final do ano “dependerá das perdas e custos, das recuperações e das exigências de capital em vigor à data”.
“Estamos hoje certos de atingir todos os ambiciosos compromissos que foram acertados entre Portugal e a Comissão Europeia. A estratégia de limpeza do legado tem provado ser a mais correta”, afirmou António Ramalho à Lusa.
As contas apresentadas na sexta-feira englobam ainda uma retificação face às apresentadas no mesmo período de 2018, já que então o banco tinha divulgado prejuízos de 419,6 milhões de euros, hoje corrigidos para 390,9 milhões de euros.
“A demonstração dos resultados referente a 30 de setembro de 2018 foi reexpressa, por forma a refletir a alteração do registo inicial de passivos relacionados com a operação de LME [Liability Management Excercise, troca de obrigações] concretizada no último trimestre de 2017. Esta reexpressão visa assegurar a comparabilidade e consistência dos dados apresentados”, de acordo com o Novo Banco.
A instituição liderada por António Ramalho aumentou o produto bancário comercial em 11,5%, nos primeiros nove meses do ano, face ao mesmo período do ano passado, para 631,2 milhões de euros.
A margem financeira aumentou 22% nos primeiros três trimestres em comparação ao mesmo período de 2018, mas o serviço a clientes reduziu-se em 3% no período.
Já os resultados em operações financeiras registaram perdas de 44,3 milhões de euros até setembro de 2019, algo atribuído pelo Novo Banco às “perdas decorrentes da atividade legacy [legado do BES]” em 54,6 milhões de euros.
Também em queda estiveram os custos operacionais do Novo Banco, que se reduziram em 0,5% para 361,8 milhões de euros, “reflexo das melhorias concretizadas ao nível da simplificação dos processos e da otimização de estruturas com a consequente redução no número de balcões e de colaboradores, tendo os custos da atividade legacy apresentado uma redução significativa”, salientou a instituição.
As provisões totalizam 640,9 milhões de euros.
Menos 129 trabalhadores e sete balcões
O Novo Banco perdeu 129 trabalhadores e sete balcões desde o final do ano passado. Segundo o comunicado divulgado, “os custos com pessoal totalizaram 200,6 milhões de euros (+0,6% em termos homólogos), tendo ocorrido uma redução de 129 colaboradores face a 31 de Dezembro de 2018”.
“Em 30 de setembro de 2019 o Grupo Novo Banco contava com 4.967 colaboradores”, revelou a instituição que sucedeu ao Banco Espírito Santo (BES). Já em termos de balcões, no final de setembro, o Novo Banco contava com um total de 395, uma descida de sete face aos registados no final de 2018.
Os gastos gerais administrativos do Novo Banco reduziram-se em 13,6 milhões de euros nos primeiros três trimestres do ano face a igual período de 2018, tendo as amortizações aumentado em 10,7 milhões para 26,9 milhões de euros em igual intervalo temporal.
CGD obtém lucros de 641 milhões de euros
A Caixa Geral de Depósitos obteve lucros de 641 milhões de euros entre janeiro e junho, o que corresponde a uma subida de 74% em relação ao mesmo período do ano passado, revelou na sexta-feira o Expresso.
A ajudar os resultados do banco público estiveram as vendas de operações internacionais, nomeadamente Espanha e África do Sul.
Olhando para o resultado líquido recorrente, portanto excluídos estes aspetos que não se repetem, fica nos 481 milhões de euros. O que está aqui em causa é a reversão parcial de imparidades que tinham sido constituídas, no valor de 159 milhões, o que dá o impulso positivo nos resultados.
A margem financeira cedeu 2,2% para 852 milhões, caindo mais de 6% na atividade doméstica. O banco liderado por Paulo Macedo justificou a evolução neste indicador (que mede a diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos) com a “conjuntura de taxas de juro”. As comissões subiram 2%.
O produto bancário ficou praticamente estagnado nos primeiros nove meses, crescendo apenas 0,1% para 1,39 mil milhões.
Os custos de estrutura recuaram 3,7% para 700 milhões de euros, com quebras nos custos com pessoal e nos gastos gerais e administrativos.
Assim, a impulsionar as contas estiveram sobretudo as provisões e imparidades: não só os 159 milhões revertidos por conta das vendas do Banco Caixa Geral (ao espanhol Abanca) e do Mercantile (ao sul-africano Mercantile Bank).
Porém, também as imparidades para crédito – dinheiro posto de lado para precaver perdas futuras em empréstimos já concedidos – afundaram, ajudando aos lucros: foram de quatro milhões quando, entre janeiro e junho de 2018, tiveram um peso de 116 milhões.
Depósitos sobem, crédito cai
Os recursos de clientes da CGD em Portugal aumentaram de menos de 71 mil milhões para mais de 72 mil milhões de euros, sobretudo devido a depósitos de particulares.
Já o crédito a clientes na atividade doméstica recuou 11% em relação a setembro do ano passado, penalizado pelas empresas (recuou 9%), nos institucionais (cedeu 79%) e nos particulares (caiu 4,3%). O banco explicou que a quebra se deve à venda de crédito malparado (que leva a diminuir o montante bruto da carteira).
O rácio de ativos não produtivos (NPE), onde está o crédito malparado, ficou em 5% em setembro, abaixo dos 6,7% no final de 2018. Ainda são quatro mil milhões de euros.
Ao ritmo a que desculpa aos grandes devedores penso ser natural dar prejuízo, como aconteceria a qualquer outra instituição de crédito. Talvez melhore se tentarem cobrar o que é devido, em vez de premiar o incumprimento.