A instabilidade pode oferecer vantagens às células e ser, afinal, o segredo para a existência da vida como a conhecemos.
Já é conhecida na área como uma “instabilidade seletivamente vantajosa” (“SAI”) e pode vir a revolucionar a área científica da Biologia.
Proposta por John Tower, biólogo molecular da Faculdade de Letras, Artes e Ciências da Universidade do Sul da Califórnia, a ideia sugere que a instabilidade pode ser tão crucial para a vida como a estabilidade, desafiando radicalmente a crença de longa data de que os organismos se esforçam principalmente por condições estáveis para conservar energia.
Numa publicação na revista Frontiers in Aging, que remete ao passado 16 de maio, Tower explica que a instabilidade em componentes biológicos, como as proteínas e o material genético, pode efetivamente oferecer vantagens às células.
Esta noção afasta-se da visão tradicional da Biologia, segundo a qual estruturas como os hexágonos, observados nos favos de mel e nos olhos dos insetos, são favorecidas devido à sua estabilidade e eficiência.
A regra de Tower postula que o ciclo constante de degradação e substituição de componentes celulares não é apenas um subproduto dos mecanismos celulares, mas uma necessidade para que a vida prospere.
Esta rotação contínua permite que as células existam num de dois estados: um com componentes instáveis presentes e outro sem eles. Esta dinâmica pode permitir que a seleção natural atue de forma diferente nestes estados, promovendo a diversidade genética que aumenta a adaptabilidade e o potencial evolutivo.
O biólogo molecular sugere ainda que a sua regra pode ser um fator fundamental no processo de envelhecimento. A energia e os recursos gastos na criação e substituição de componentes instáveis podem contribuir para o envelhecimento, especialmente se a instabilidade levar a mutações prejudiciais.
Intimamente ligada à teoria do caos, à criticalidade, aos padrões de Turing e até à “consciência celular”, a nova investigação indica que a instabilidade pode ser essencial para gerar estes fenómenos complexos.
“Mesmo as células mais simples contêm proteases e nucleases e degradam e substituem regularmente as suas proteínas e ARNs, o que indica que a SAI é essencial para a vida”, explica o autor, citado pela Scitech Daily.
“Isto pode favorecer a manutenção de um gene normal e de uma mutação genética na mesma população de células, se o gene normal for favorável num estado celular e a mutação genética for favorável no outro estado celular”, afirma.