A “Nossa Senhora” é o novo escândalo na Ucrânia

Paulo Cunha / Lusa

Mulher conseguiu empréstimos que nunca pagou. A alegada “cura” desta ucraniana chegava aos mais vulneráveis, incluindo famílias de militares.

“Eu sou a mãe de Deus. Eu sou a personificação da Nossa Senhora, a mãe do Universo“.

A “Nossa Senhora” chegou à Ucrânia. Não a de Fátima, mas um outro contexto que originou um novo escândalo na Ucrânia, descreve o TSN.

Esta “Nossa Senhora” é uma mulher – é ela própria que se apresenta como tal – que alega conseguir fazer curas quase milagrosas em pessoas doentes.

Diz que faz limpezas espirituais, um trabalho espiritual “Virgem”, que custa dezenas de milhares de hryvnias, ou seja, centenas ou mesmo milhares de euros.

O jornal ucraniano explica que a mulher tinha um alvo bem definido para as suas burlas: pessoas mais vulneráveis, incluindo famílias de militares que combatem ou combateram com russos.

Um caso que se espalhou pelas redes sociais foi o de uma mulher que lhe pediu ajuda para o marido, que estava em coma num hospital de outro país. A criminosa respondeu que tinha “energia” para o ajudar – mas pediu dinheiro antecipadamente, em forma de empréstimo.

“A energia funciona através de uma troca de ferramentas. E isso acontece há muito tempo”, descreveu a vítima.

Os relatos apontam que a “Nossa Senhora” pediu dinheiro a pelo menos outras 25 pessoas que a vítima conhecia.

São pessoas que “acreditam no poder da mulher e estão disponíveis para emprestar dinheiro em troca de energia“, continua.

Este relato de Anne originou muitas reacções, muitos comentários nas redes sociais. Aparentemente, a “Nossa Senhora” já tinha feito aparições em muitos lados.

As pessoas estão desesperadas, devido à gravidade da doença (delas próprias ou de alguém próximo), e aceitam tudo. Mesmo quem está na guerra já se virou para este “serviço”, porque não via outra saída.

A mulher pedia dinheiro, um empréstimo ou adiantamento, que garantia que seria devolvido parcialmente depois – mas nunca pagou.

Algumas vítimas, depois de cederem os empréstimos, ficaram com dívidas. Cartas, telefonemas dos bancos, passaram a ser habituais. Porque o dinheiro nunca voltou, claro.

A burlona admitia nas suas páginas que cobrava dinheiro pela sua alegada cura – mas, logo a seguir, lembrava que ela é a “Nossa Senhora”, ou “Santíssima”, por isso os pagamentos justificavam-se. “Para a obra de Deus, para a salvação, é preciso dinheiro“, alegou num dos casos.

Há algumas informações sobre esta criminosa. Aparentemente chama-se Anna, tem 39 anos, é divorciada e vive em Chercássi.

Há uns anos abriu um café em Kiev, com o irmão – e já na altura deixou dívidas a fornecedores e não pagou a renda do espaço. Foi condenada em tribunal.

Esta burla pode originar uma pena máxima de prisão de 12 anos, com confisco de bens.