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Neurobiólogo descobre “botão” que ativa instinto predatório em cobaias

(CC0/PD) angelic / pixabay

Os mecanismos cerebrais que controlam comportamento predatório em animais ainda são desconhecidos

Os mecanismos cerebrais que controlam comportamento predatório em animais ainda são desconhecidos

Uma equipa de cientistas do Laboratório de Neurobiologia Universidade Yale, nos EUA, afirma ter desvendado o mecanismo cerebral que ativa o comportamento predatório em animais.

No estudo publicado na revista científica Cell, o cientista Ivan de Araújo diz ter descoberto uma espécie de “botão” que desperta o instinto de caça em camundongos, através do uso de lasers numa região específica do cérebro dos animais – a amígdala central.

Investigações anteriores já tinham mostrado que a amígdala central, área do cérebro envolvida na produção de emoções, é ativada quando os camundongos caçam. A equipa de cientistas quis determinar se a amígdala também controla os comportamentos predatórios, e os resultados sugerem que sim.

Através de uma técnica chamada optogenética, os especialistas infetaram os animais com um vírus que torna os neurónios sensíveis à luz azul e, com o uso de uma fibra ótica, iluminaram a amígdala com um laser azul – o que provocou tensão na mandíbula e nos músculos do pescoço.

“Conhecemos muito pouco sobre o funcionamento do mecanismo de caça, que é um arsenal de programas motores que regulam uma série de atividade, desde a velocidade à aniquilação da presa. E nós desvendamos parte do circuito”, explicou Araújo à BBC.

Quando o laser estava ligado, as cobaias caçaram tudo o que foi posto à sua frente – desde grilos a tampas de garrafa. O comportamento foi igual quando os cientistas usaram moléculas, em vez de luz, para estimular a amígdala e ativar os neurónios.

Os comportamentos predatórios foram observados mesmo quando não havia nada para os camundongos caçarem. Em gaiolas vazias, por exemplo, o estímulo fez com que os animais posicionassem as patas dianteiras como se estivessem a segurar um alimento e movessem as bocas como se estivessem a mastigá-lo.

Segundo o cientista Ivan de Araújo, a equipa pensou na hipótese do desenvolvimento de uma agressividade mais generalizada, mas os animais não demonstraram qualquer comportamento agressivo uns com os outros.

“Uma das questões a que temos de responder é porque é que os estímulos não resultaram em ataques. Algo no cérebro das cobaias impediu que se agredissem umas às outras“, destacou.

O especialista acredita que o novo estudo pode facilitar futuras investigações acerca do comportamento animal, incluindo um possível “botão” que ative a agressividade tanto em animais como em humanos.

“Um trabalho como o nosso pode ajudar a melhorar o entendimento de mecanismos humanos. Há investigações, por exemplo, que estudam certos tipos de demência que fazem com que os pacientes mordam objetos“, disse o cientista.

“Na questão da agressividade, ainda há um debate muito grande sobre quanto é que o ambiente pode influenciar um comportamento violento, por exemplo”, acrescentou.

“Outro ponto importante é a constatação de que uma rede neural relativamente simples controla um processo complexo como a caça, e que a amígdala central é uma região fundamental para isso.”

O cientista diz que esta descoberta pode ser relevante para investigações no campo da robótica, como o sistema de navegação de veículos que têm de funcionar em ambientes complexos como outros planetas, mas afirma que ainda há muito trabalho a ser feito no mapeamento de redes neurais e no funcionamento do cérebro.

ZAP // BBC

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