A Netflix acaba de lançar The Last Czars, uma série documental sobre a história de Nicolau II e a sua família, que acabou por ditar o fim da dinastia de 300 anos dos Romanov e a queda do Império Russo.
Nicolau II, filho de Alexandre III, governou durante duas décadas após a morte prematura do pai, que morreu em 1894 com apenas 49 anos. Batizado como “o Sanguinário”, o último czar da Rússia assumiu o trono com 29 anos.
O seu reinado foi marcado pela queda catastrófica da Rússia como potência económica e militar. Os protestos do povo foram ganhando força nas ruas, tendo depois a Revolução Russa de 1917 acabado por obrigar Nicolau II a abdicar do trono.
Meses após abdicar para o seu irmão, o grão-duque Miguel Alexandrovich, Nicolau II e sua família – a sua esposa, a imperatriz Alexandra Feodorovna, as suas quatro filhas – Olga, Maria, Anastásia e Tatiana – e o seu único filho homem, o herdeiro Alexei, foram executados no porão de casa pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918 por medo que fossem libertados por uma ofensiva do Exército Branco.
O médico da família, um servo, uma camareira e o cozinheiro da família foram também mortos nesta execução atribuída a Vladimir Lenin, que estabeleceu depois um Governo Provisório na Rússia, e ao líder bolchevique Yakov Sverdlov.
Produzia pela Nutopia, a série conta com seis episódios de cerca 40 minutos e alia ficção e história. Situada no início da década de 1910, a produção é já considerada um dos grandes lançamentos da plataforma norte-americana de streaming.
“[A série] é cerca de 80% drama e 20% documentário”, descreveu a atriz Susanna Herbert, que interpreta a czarina Alexandra, citada pelo Harper’s Bazaar UK.
“É um estilo bem novo porque é uma produção realmente de alta qualidade e épica em escala, mas [quem vê] tem também o benefício adicional de ouvir historiadores de classe mundial para explicar alguns dos contextos nos bastidores”, apontou.
A crítica ao sotaque britânico
Apesar do novo estilo da produção, a série tem recebido algumas críticas. Segundo o jornal britânico The Guardian, a série não está a ser bem recebida pelos russos, ao contrário do que aconteceu com Chernobyl, uma produção da HBO que cativou a audiência pelo rigor histórico e pelos detalhes meticulosamente apresentados.
Uma das falhas mais apontadas, quer pela crítica como também pelos utilizadores das redes sociais, é o sotaque britânico com que os atores falam na produção. Susanna Herbert explicou, citada pelo mesmo média, que os criadores da série queriam despertar a reação oposta nos espetadores.
Segundo a atriz, os responsáveis optaram por esta liberdade criativa, permitindo que os atores da série falassem normalmente, não forçando assim um sotaque diferente do seu.
“O diretor e os produtores estavam realmente certos de que queriam que as pessoas se conectassem com os personagens como humanos, como pessoas com quem podiam se relacionar. Não tinha sotaque alemão ou sotaque russo – tinha o meu próprio sotaque”, começou por explicar a atriz.
“Não fui para acentuar os sotaques do drama da época real (…) Nesse sentido, a produção é muito diferente dos outros dramas de época. [O sotaque] não é cortado nem retido. Colocamos tudo na mesa”, completou.
Além do sotaque dos atores, têm sido apontados outros erros na produção. Há uma cena na Praça Vermelha, datada de 1905, onde é possível ver o túmulo de Lenin, que só foi construído vinte anos depois, em 1924, já depois da queda do último czar da Rússia.
Outra falha “irritante”, tal como descreve o diário britânico, está relacionado com o próprio substantivo “czar”. Segundo explica o jornal, o termo czar reflete a tradução americanizada, sendo a versão britânica da palavra, tsar, preferida entre os russos.
Contudo, há quem aclame também a produção, dando conta que se trata de uma série desenhada para uma audiência mais global. O The Guardian elogia a cinematografia e os figurinos que descreve como “lindos”. “Às vezes, a dramatização em si torna-se maravilhosamente agradável, com a mesma vibração melosa de Downton Abbey (que é muito amada pelos telespectadores russos)”.
Já o britânico Wall Street Journal destaca a capacidade da série em manter a audiência agarrada à trama. “É uma produção que mistura factos históricos com uma dramatização capaz de manter o telespectador interessado o tempo inteiro”, pode ler-se.
A história dos últimos czares da Rússia, pontuada com 7,2 no IMBD duas semanas após a sua estreia em Portugal, intriga historiadores há vários anos. Só no ano passado, é que foi possível confirmar que os restos mortais encontrados em 1993 e 2007 perto da cidade russa de Ekaterinburgo pertenciam a Nicolau II e à sua família.
Um século depois da sua morte, a investigação do assassinato da família real continua. O Comité de Investigações da Rússia revelou em julho passado que os cientistas estão a analisar cerca de 2 mil documentos relacionados com a morte dos últimos Romanov.