O pianista Daryl Davis fez amizade com mais de 200 membros do Ku Klux Klan, conseguindo até que eles abandonassem o grupo de supremacia branca.
Daryl Davis é um músico de profissão, mas acima de tudo é um ativista interessado em melhorar as relações raciais nos Estados Unidos da América. Ao longo da sua vida, o afro-americano já reconverteu mais de 200 membros do Ku Klux Klan, convencendo-os a abdicar dos seus roupões.
O Ku Klux Klan (KKK) é uma organização racista e supremacista branca que surgiu nos Estados Unidos no final da Guerra Civil Americana, em 1865. O objetivo principal é promover o ódio, a discriminação e a violência contra minorias étnicas, principalmente afro-americanos, mas também contra judeus, imigrantes e outras pessoas consideradas “diferentes” pelas suas crenças, raça ou origem étnica.
O KKK é conhecido pelos linchamentos, espancamentos e atentados terroristas contra indivíduos e comunidades que consideram ameaças à supremacia branca. Além disso, a organização usa símbolos e rituais distintivos, como capuzes brancos e cruzes em chamas.
A primeira vez que Davis deu de caras com o racismo foi quando tinha apenas 10 anos. Certo dia, quando estava numa parada dos escuteiros, foi bombardeado com garrafas, latas de refrigerante e pedras. Ele era a única criança negra em todo o desfile.
“Não percebi o que se estava a passar. Pensei que as pessoas não gostavam dos escuteiros. Só quando os meus chefes escuteiros vieram a correr e me cobriram com os seus próprios corpos é que percebi que mais nenhum escuteiro estava a ser atingido”, recordou em conversa com a Business Insider.
Depois disso, Davis começou a ler livros sobre supremacia negra, supremacia branca, anti-semitismo e neo-nazis. Essencialmente, qualquer pessoa que sentisse que a cor da sua pele lhe dava superioridade sobre os outros.
Em 1983, Davis tocou no Silver Dollar Lounge, que tem a reputação de ser frequentado apenas por brancos. Foi aí que um homem branco veio ter com ele e elogiou-o pela sua performance. Disse-lhe que foi o primeiro artista negro que viu tocar como o Jerry Lee Lewis.
Davis contou ao homem sobre as raízes do Jerry Lee Lewis, explicando-lhe que aprenderam no mesmo sítio: com os pianistas negros de blues e boogie-woogie.
O homem não acreditou, ao que Davis respondeu: “Olha, meu, o Jerry Lee Lewis era um grande amigo meu. Ele próprio me disse”. O homem ficou fascinado e até o convidou para beberem um copo no bar.
Entretanto, revelou a Davis que era a primeira vez que se sentava com um negro e ele perguntei-lhe porquê. “Sou um membro do Ku Klux Klan”, respondeu. Inicialmente, Davis riu-se, pensando que era uma piada. No entanto, o homem retirou da sua carteira o cartão de membro que provava que ele pertencia ao KKK.
A realidade é que, apesar disso, os dois ficaram amigos. O homem deu-lhe o seu contacto e disse-lhe para ligar sempre que voltasse ao Silver Dollar Lounge, porque queria que os seus amigos do KKK o vissem tocar.
“Algumas das pessoas do Klan estavam curiosas acerca de mim e queriam falar. Outros levantavam-se e passavam para o outro lado da sala”, descreveu Davis.
Foi apenas passado alguns anos que Davis ganhou coragem para fazer a pergunta que o assombrava há décadas: “Como é que me podes odiar-me se não me conheces?”.
“Passei os anos seguintes a viajar por todo o país, a entrevistar o homem daquela noite, os líderes e os membros do Klan e acabei por escrever um livro sobre o assunto”, contou Davis à Insider. “Eu não converti ninguém. Mais de 200 membros do Klan converteram-se”.
Davis recorreu à diplomacia nas conversas com os membros do KKK. Afinal de contas, ele próprio veio de uma família de diplomatas e, como diz o ditado, filho de peixe sabe nadar.
“Aprendi que todos os seres humanos querem ser amados, respeitados, ouvidos, tratados com justiça e verdade, e querem o mesmo para a sua família. Se aprendermos a aplicar estes cinco valores fundamentais, podemos navegar até mesmo em situações adversas de forma muito mais suave e positiva”, explicou.
Um homem com um carisma especial, sem dúvida.
Fez mais ele sozinho que milhares de “antifas” e BLMs.