O dia de Natal está frequentemente nas listas dos dias com menos nascimentos. Há vários factores, tanto biológicos como sociais, que explicam este fenómeno.
É um pouco irónico dado o nome da celebração, mas o Natal é um dos dias menos populares para as crianças nascerem — e esta tendência verifica-se um pouco por todo o mundo. Será que Jesus Cristo quis ficar com o dia só para si?
O fenómeno foi observado pela primeira vez em 1999, num estudo que analisou o sistema fiscal dos Estados Unidos e notou uma queda significativa nos nascimentos no Natal. Se não contarmos o dia 29 de Fevereiro, por motivos óbvios, entre 1978 e 1992, o dia de Natal foi sempre o menos popular as crianças virem ao mundo.
O que é que explica isto? Será que há algum factor biológico que influencia isto? Na verdade, até há. Os meses do final do Verão e do início do Outono são aqueles onde nascem mais crianças — em Portugal, Setembro é consistentemente o rei da natalidade, tendo liderando sempre a lista entre 2002 e 2016, excepto em 2011.
“As hipóteses incluem a deterioração da qualidade do esperma durante o Verão, as diferenças sazonais na função hipófise-ovariana causadas pelas mudanças na duração da luz do dia ou variações na qualidade dos óvulos e da receptividade endometrial”, propôs um estudo de 2001 citado pelo IFLScience.
Há ainda outros factores que influenciam a tendência, como o aumento das relações sexuais durante as festividades. A atmosfera natalícia aproxima os casais, que nove meses depois, precisamente em Setembro, recebem um presente atrasado.
Dezembro junta vários ingredientes que o tornam o mês ideal para a concepção: as férias, o reecontro de casais que estão em relações à distância e a cultura de fraternidade típica das festas.
Para Filomena Mendes, da Associação Portuguesa de Demografia, a quadra natalícia “é um período mais favorável à tomada de decisões” como começar ou alargar a família. “A maior descontração das pessoas” trazida pelas férias também é importante, relata ao Jornal de Negócios.
Dia de Natal, o mal-amado
Mas se estes factores sazonais podem explicar o maior número de nascimentos em Setembro, não justificam a queda abrupta de nascimentos na época natalícia. Afinal, os bebés que nascem nesta altura são concebidos em Março, um mês ainda longe do calor sufocante do Verão que é inimigo dos espermatozóides.
Se os casais têm mais vontade de fazer os bebés no Natal, o apetite já não é tanto quando se trata de receber os seus rebentos nesta altura. Parece que o choro e a mudança de fraldas não combinam bem com o espírito natalício.
O Natal não está sozinho nisto. Na verdade, é frequente notar uma quebra no número de nascimentos aos feriados e fins-de-semana.
De acordo com o artigo do economista Jay L. Zagorsky para o The Conversation, nos Estados Unidos, todos os quatro dias menos favorecidos para os bebés darem de sua graça são feriados, sendo estes o Natal, o Ano Novo, o Quatro de Julho e a Acção de Graças. Mesmo assim, há zonas onde há menos entre 30% e 40% nascimentos a 25 de Dezembro em comparação com dia onde se regista o pico do ano.
“O dia 25 de Dezembro é o menos popular nos EUA, Austrália e Nova Zelândia para dar à luz. Na Inglaterra, País de Gales e Irlanda, é o segundo menos popular, atrás de 26 de dezembro, quando os britânicos comemoram o Boxing Day”, realça.
A explicação para isto é simples — hoje em dia já podemos escolher o dia em que as crianças nascem. “Quase não há cesarianas marcadas em feriados ou fins-de-semana. Cerca de um em cada três bebés americanos nascem desta forma”, afirma. Em Portugal, os números são semelhantes, com cerca de 33% das crianças a nascer de cesariana, de acordo com dados divulgados em 2020.
Mesmo quando as crianças nascem de parto vaginal, é cada vez mais comum que estes também sejam induzidos medicamente precisamente para calharem em datas mais convenientes, tanto para os médicos como para a própria grávida.
No final de contas, o que é soa melhor, estar em casa a comer bolo-rei e a abrir presentes com a família ou estar a trabalhar ou a levar uma epidural? A resposta parece simples.