Investigadores do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA criaram um robô em forma de cobra, totalmente autónomo, para explorar terrenos extraterrestres extremos. O objetivo da agência espacial norte-americana é chegar a Enceladus, a gelada lua de Saturno.
O Laboratório de Propulsão a Jato da NASA está a testar um robô em forma de cobra que deverá explorar as águas geladas do oceano da lua de Saturno Enceladus.
A serpente robótica chama-se Exobiology Extant Life Surveyor (EELS) e foi construída com o propósito de procurar vida em locais de difícil acesso na Terra, na nossa Lua e, eventualmente, noutros mundos extraterrestres.
Em meados da década de 2000, quando a sonda Cassini enviou imagens de Enceladus, uma das 83 luas de Saturno, os cientistas descobriram que estava ativa e que escondia um oceano salgado de água líquida sob a sua crosta.
O mais surpreendente sobre esta lua é que lança continuamente para o Espaço plumas de partículas geladas provenientes desse oceano, misturadas com água e químicos orgânicos simples.
Os investigadores decidiram criar o EELS para investigar estas plumas, assim como as estreitas aberturas por onde escapam.
Segundo o New Atlas, a construção do protótipo teve início em 2019 e a equipa tem vindo a testá-lo mensalmente desde o ano passado, para que consiga aperfeiçoar o hardware e o software do robô ao ponto de funcionar completamente de forma autónoma.
Dado o atraso nas comunicações entre a Terra e o Espaço profundo, a capacidade do EELS funcionar autonomamente é muito importante. Se tiver um problema, tem de ser capaz de recuperar sozinho, sem depender de assistência humana.
A atual versão deste robô-cobra tem 4 metros de comprimento e pesa cerca de 100 kg. O dispositivo move-se rodando os seus dez segmentos, que estão equipados com fios que lhe permitem impulsionar-se para a frente. Estes segmentos podem atuar como propulsores, permitindo que o EELS explore um ambiente debaixo de água.
“Temos uma filosofia de desenvolvimento de robôs diferente da das naves espaciais tradicionais, com muitos ciclos rápidos de testes e correções”, explicou Hiro Ono, investigador principal do JPL.
“Há dezenas de manuais sobre como conceber um veículo de quatro rodas, mas não há nenhum sobre como conceber um robô serpente autónomo para ir corajosamente onde nenhum robô foi anteriormente. Temos de escrever o nosso próprio livro”, acrescentou.
O EELS tem quatro pares de câmaras estéreo e LiDAR que produzem um mapa 3D do ambiente que o rodeia. O LiDAR determina o alcance apontando para uma superfície ou objeto com um laser e medindo o tempo que a luz refletida demora a regressar ao recetor. Por sua vez, o robô utiliza esta informação para criar algoritmos de navegação, que o ajudam a percorrer mais facilmente espaços de difícil acesso.
Para testar as capacidades de mapeamento do EELS, a equipa do JPL deixou cair a cabeça do robô – a parte que contém as câmaras e o LiDAR – num poço vertical no glaciar Athabasca, nas montanhas rochosas do Canadá, um análogo para as aberturas de Enceladus.
Os investigadores vão regressar ao glaciar em setembro com uma versão atualizada do robô para testar como se comporta desta vez. A equipa espera que a “cobra” desça sem cair.
“Até agora, o nosso foco tem sido a capacidade autónoma e a mobilidade, mas, eventualmente, iremos analisar que instrumentos científicos podemos integrar no EELS”, adiantou o gestor do projeto, Matthew Robinson. “Os cientistas dizem-nos onde querem ir, o que mais os entusiasma, e nós criamos um robô que os levará até lá.”
Este robô-cobra “todo-o-terreno” será tão útil que, para além de Enceladus, poderá vir a explorar as calotes polares de Marte ou as fendas geladas profundas do nosso planeta. No entanto, ainda falta algum tempo até que o EELS esteja pronto para percorrer terreno extraterrestre sozinho.