Não é só “copos e mulheres”: Os europeus do sul também são os reis da bola

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Georgi Licovski / EPA

Espanha conquista o Euro 2024

Intitulados pelos britânicos como “PIGS” (num acrónimo que significa “porcos”, criado para troçar da má performance económica dos países do sul), Portugal, Itália, Grécia e Espanha têm outras coisas de que se podem orgulhar.

A Espanha venceu o Europeu de futebol, outra vez.

“Outra vez” porque já são quatro vezes (a terceira em 16 anos).

Com a conquista, este domingo, La Roja tornou-se a primeira seleção a ganhar o Euro em quatro ocasiões. Não é por acaso que, nas camisolas comemorativas, se auto-proclama “Rainha da Europa”.

Depois das conquistas de 1964, 2008 e 2012, a Espanha voltou ao trono.

Já agora, permanecendo no mesmo campo lexical, há 20 anos que a coroa do Europeu não sai do sul da Europa.

Depois de 26 anos de ausência, o troféu voltou para o meridião, em 2004, pelas mãos da Grécia – num momento (pelos bons e maus motivos) bem ainda presente na memória da generalidade dos portugueses.

Até então, dos países do sul, apenas Espanha (1964) e Itália (1968) tinham ganho um Europeu. Mas a Grécia parece ter começado uma tendência favorável aos países da Europa meridional

Em 2008, a Espanha ergueu o troféu pela segunda vez.

Quatro anos depois, em 2012, La Roja repetiu o feito e tornou-se a primeira seleção a ganhar o Europeu duas vezes seguidas.

Dos “PIGS” só faltava mesmo Portugal. O troféu que se andava a banhar pelo mediterrâneo lá passou o estreitou de Gibraltar, em 2016, para fazer felizes os portugueses.

No Euro 2020, jogado em 2021, devido à pandemia provocada pela covid-19, a coroa do Europeu voltou ao mediterrâneo e deu à costa em Itália, que voltou a sentar-se no trono, 53 anos depois, ao derrotar a Inglaterra.

Este ano, com a segunda presença seguida na final, os ingleses diziam querer “trazer de volta a casa” algo que, na realidade, nunca lhes pertenceu, já que a Inglaterra nunca ganhou um Europeu. Mas a Espanha mostrou quem manda e voltou a deixar ficar o Euro no sul da Europa. Já os ingleses conseguiram algo inédito: perder duas finais seguidas.

Maus na economia; bons em copos, mulheres… e futebol

Em 2017, Jeroen Dijsselbloem, então Presidente do Eurogrupo e ministro das finanças dos Países Baixos, acusou os países do sul de terem como prioridade “copos e mulheres”.

Em declarações a um jornal alemão sobre as ajudas financeiras dos países do norte aos países do sul em tempos de crise, o governante holandês criticou a maneira de estar dos europeus meridionais.

“Durante a crise do euro, os países do norte mostraram-se solidários com os países afetados pela crise. Como social-democrata considero a solidariedade extremamente importante. Mas quem a exige também tem obrigações. Não posso gastar todo o meu dinheiro em álcool e mulheres e, a seguir, pedir ajuda”, disse Jeroen Dijsselbloem ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Esta ideia de que os países do meridião só se preocupam com “copos e mulheres” até pode ser verdadeira, mas foi muito redutora, uma vez que também demonstram ser fortíssimos em bola.

Desde a criação do Eurogrupo, em 1997, houve sete edições do Europeu: seis tiveram como vencedor países do sul da Europa; a outra foi para França (2000) – que, curiosamente, em muito partilha da cultura e valores meridionais.

Miguel Esteves, ZAP //

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