Myanmar proíbe minorias de votar, incluindo 1,1 milhões de Rohingya

European Parliament / VisualHunt

Aung San Suu Kyi no Parlamento Europeu

Myanmar prepara-se para a segunda eleição geral do país desde o fim do regime militar, numa votação que deve devolver o poder a Aung San Suu Kyi, mas que excluirá cerca de 2,6 milhões de eleitores de minorias étnicas.

Diferente do que aconteceu em 2015, as eleições deste ano no Myanmar estão ofuscadas pela pandemia do coronavírus, por uma crise económica e pelos intensos conflitos em algumas zonas do país – com militares acusados ​​de atrocidades, semelhantes às infligidas aos Rohingya em 2017, noticiou esta sexta-feira o Guardian.

Embora seja esperado que a Liga Nacional para a Democracia (NLD) fique no poder, devido à popularidade da líder do partido, Aung San Suu Kyi, existe uma apatia crescente e um profundo ressentimento entre as minorias étnicas.

Estima-se que 1,5 milhões de eleitores desses grupos, residentes em áreas afetadas pelos conflitos, não terão permissão para participar das eleições, aparentemente por motivos de segurança. Entre esses estão os budistas Rakhine, que puderam votar em 2015, mas que estão agora privados desse direito. Além disso, cerca de 1,1 milhões de Rohingya, a quem foi negada a cidadania e os direitos de voto, serão excluídos.

A decisão de proibir as votações em muitas das comunidades provavelmente alimentará os confrontos ali existentes, frisou o Guardian, numas eleições em que aproximadamente 38 milhões de pessoas serão elegíveis para ir às urnas – incluindo cinco milhões de jovens que votarão pela primeira vez – e 90 partidos vão competir com a NLD.

Segundo a constituição, um quarto dos assentos parlamentares é reservado aos militares. Esta semana, o chefe do Exército, Min Aung Hlaing, afirmou o seu poder numa rara entrevista, acusando o governo civil de “erros inaceitáveis” na corrida para as eleições, descrevendo os militares como os “guardiões” do país.

A participação eleitoral deverá ser menor do que em 2015, em parte devido ao aumento da apatia civil. A Federação de Sindicatos de Estudantes convocou um boicote, acusando o governo de não conseguir realizar reformas democráticas, com alguns dos seus membros a enfrentar até cinco anos de prisão por envolvimento em protestos antigovernamentais.

O medo do coronavírus também pode impedir algumas pessoas de irem às urnas. Aung San Suu Kyi decidiu avançar com uma eleição, apesar do aumento de casos em agosto.

“Muitas pessoas, inclusive eu, gostariam que ela [Aung San Suu Kyi] adiasse as eleições por apenas um mês”, disse Khin Zaw Win, diretor do Instituto Tampadipa, em Yangon. As restrições impostas para conter o surto tornaram a campanha mais difícil para os partidos menores, de base étnica, que não têm acesso à media estatal.

Moe Thuzar, coordenadora do programa de estudos sobre Myanmar no Instituto ISEAS-Yusof Ishak, em Singapura, disse que a eleições foram um momento importante na transição do regime militar. “Apesar das falhas, as eleições de 2020 em Myanmar ainda são um marco no esforço de democratização”, acrescentou.

ZAP //

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