A primeira fase do “Museu Salazar” vai avançar já no final de maio, apesar da reprovação do Parlamento e da polémica que gerou.
A Câmara Municipal de Santa Comba Dão vai inaugurar o polémico Centro Interpretativo e Museu do Estado Novo, na antiga Escola-Cantina Salazar, no Vimieiro, onde nasceu o antigo ditador. Abrirá porta no final de maio, segundo o Expresso, como “pré-projeto”.
A intenção de abrir aquele que ficou conhecido como “Museu Salazar” já tinha sido sinalizada há cinco anos. Na altura, o caso chegou até aos tribunais e à Assembleia da República, mas a autarquia decidiu avançar na mesma com o projeto.
Em 2019, o Parlamento condenou a criação do museu dedicado a Salazar, por considerar ser uma “afronta à democracia” e uma “ofensa à memória das vítimas da ditadura”. PSD e CDS abstiveram-se, mas a maioria de esquerda – PS, BE, PCP e PEV – aprovou o voto apresentado pelo PCP.
Apesar da reprovação do Parlamento, as obras começaram em agosto desse ano. A expectativa era que o museu abrisse portas depois do verão, mas com a chegada da pandemia, tudo se atrasou. Agora, o presidente da Câmara de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia, aponta que o arranque do projeto para o final de maio deste ano.
Ao semanário, o autarca frisa que trata-se ainda da “fase 1” do projeto que servirá de “auscultação” da comunidade para chegar ao “modelo final”. O município ainda está “à procura de financiamento” para uma fase mais avançada do projeto.
“Será por décadas e temáticas, com aqueles que foram os momentos mais importantes do Estado Novo, e está pensado para acontecer em quatro anos”, diz o presidente da Câmara de Santa Comba Dão sobre a segunda fase do projeto.
Leonel Gouveia considera o museu “absolutamente necessário” para “interpretar factos” e compreender “virtudes da democracia”.
A parceria com o Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20) da Universidade de Coimbra também acabou por falhar. Leonel Gouveia garante que o acordo falhou por “problemas internos” do CEIS20 e não devido à polémica gerada em torno do museu.
“Estamos a tentar encontrar parceiros, nomeadamente, a Universidade de Aveiro”, sublinhou o autarca ao Expresso.
António de Oliveira Salazar foi um ditador que governou o país entre 1932 e 1968, tendo assumido ainda a pasta das Finanças. Foi promotor do chamado Estado Novo, assente em princípios tais como “deus, pátria e família”.
Com a imposição da censura, o regime utilizava ferramentas para controlar o povo como a polícia política (PVDE, posteriormente PIDE e depois DGS) e a Legião Portuguesa.
«…É natural que alguns homens educados para a luta puramente política, as especulações demagógicas, as exaltações emocionais das massas populares, e por esse motivo propensos a reduzir a vida da Nação à agitação própria e das forças partidárias que lhes restam, não tenham revelado compreensão nem dado mostras de adaptar-se. Mas a Nação que faz livremente a vida que quer, a Nação viva e real, essa, comparando passado e presente, olha com certa desconfiança o zelo destes apóstolos da liberdade…» – António de Oliveira Salazar