O deserto do Atacama, no norte do Chile, é conhecido por ser um dos locais mais secos da Terra. No entanto, investigadores descobriram recentemente um ecossistema surpreendentemente vibrante, repleto de vida microbiana.
A descoberta, detalhada num estudo publicado recentemente na PNAS Nexus, revela que o solo do Atacama alberga uma gama diversificada de microorganismos a diferentes profundidades.
Na sua investigação, a equipa de cientistas recolheu amostras de solo da região de Yungay, no Atacama, a uma profundidade de 4,2 metros, descobrindo várias comunidades microbianas em diferentes tipos de solo e profundidades.
A descoberta incluiu cianobactérias, Actinobacteriota extremófila e uma classe de bactérias fixadoras de azoto conhecida como Alphaproteobacteria.
Estes micróbios encontram refúgio das duras condições acima do solo habitando os cristais porosos de gesso, que criam um microclima que os protege da intensa radiação ultravioleta, permitindo ao mesmo tempo luz suficiente para a fotossíntese.
“As elevadas concentrações de sal estão possivelmente a causar o fim da colonização microbiana na parte inferior dos sedimentos da playa”, observou a equipa, citada pelo Gizmodo.
No entanto, “nos depósitos de leque aluvial subjacentes, as comunidades microbianas reaparecem, possivelmente devido ao facto de o gesso fornecer uma fonte de água alternativa”.
A água é extremamente rara no Atacama. Durante um estudo de quatro anos, realizado durante um padrão climático El Niño, a região registou apenas um evento de chuva, que correspondeu a apenas 2,3 milímetros de precipitação.
Este ambiente árido tem sido utilizado pelos cientistas como um análogo de Marte, dada a sua semelhança com as condições secas do Planeta Vermelho.
A descoberta de um ecossistema próspero sob a superfície do deserto do Atacama sugere que condições semelhantes em Marte poderão suportar vida microbiana. A presença de depósitos de gesso em Marte pode fornecer uma fonte essencial de água para potencial vida microbiana, refletindo as condições encontradas no Atacama.
“Embora o gesso possa não ser omnipresente na subsuperfície de todos os desertos”, escreveram os autores do estudo, “a presença deste nicho de subsuperfície pode indicar que a biodiversidade global dos desertos foi subestimada até agora e que, em determinadas circunstâncias, uma comunidade de subsuperfície pode persistir nas camadas mais profundas dos locais mais secos da Terra”.
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