“Só mais um?” Assistir a múltiplos episódios de séries pode ser mais do que um hábito — e as consequências negativas já estão identificadas

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Cientistas suspeitam que os traços psicológicos das pessoas viciadas em séries são comuns, por exemplo, às pessoas com vícios em substâncias e álcool.

Ao longo dos últimos anos — sobretudo desde que as plataformas de streaming iniciaram a sua atividade mundialmente e de forma massificada — enraizou-se, entre os utilizadores, o hábito de assistir a episódios sucessivos das suas séries de eleição, já que deixou de estar em vigor um regime de horários definidos pela estação de televisão que emite os conteúdos. Este foi um fenómeno ganhou uma dimensão tal, sobretudo durante a pandemia, que ganhou o direito a um termo próprio no âmbito da pesquisa científica — o binge-watching.

O maior problema em relação à prática, nota o Science Alert, é que o binge-watching não é definido pelo número de episódios assistidos ou pelo número de horas passadas em frente ao ecrã. À semelhança do que acontece com outros comportamentos que a ciência enquadra na esfera do vício, este hábito começa a deixar de ser saudável quando impacta negativamente os vários aspetos da vida de um indivíduo.

No entanto, e tal como acontece com o vício em sexo, no trabalho ou no exercício físico, o vício em séries não é reconhecido pelos manuais psiquiátricos e não existem dados rigorosos sobre a prevalência do fenómeno. Um crescente número de investigações científicas sobre será, por isso, bem-vindo.

Num dos estudos mais recentes, elaborado por um grupo de investigadores polacos, foram inquiridos 645 jovens adultos, os quais haviam dito anteriormente que já tinham assistido a pelo menos dois episódios seguidos de uma série. O objetivo dos autores era perceber que fatores estariam na origem deste comportamento e que tipo de consequência poderia resultar daqui.

De forma a aferir os resultados, confrontara os participantes com um questionário que haviam desenvolvido para uma pesquisa anterior. Entre as perguntas constavam algumas como “Com que frequência negligência as suas obrigações para ver séries? Com que frequência se sente triste ou irritado quando não consegue ver séries? Com que frequência negligencia o seu período de sono para ver episódios sucessivos de séries?” A resposta deveria ser dada numa escala de seis pontos de um (nunca) a seis (seis) — com o resultado acima de um determinado valor a indicar o nível da problemática de binge-watching.

Recorrendo a outros tipos de escalas, os investigadores encontraram, entre o grupo de participantes, fenómenos como dificuldade no controlo de impulsos, falta de premeditação (dificuldades no planeamento e avaliação das consequências de um determinado comportamento), o uso das séries para escapar ou esquecer os problemas, e a observação para evitar o sentimento de solidão. Todas estas observações, consideram os investigadores, estavam entre os sinais mais significativos de binge-watching problemático.

Através dos mesmos dados, os investigadores afirmaram, num estudo anterior, que a prática tinha um efeito claro na ansiedade e na própria depressão — quando maiores forem estes quadros, mais significativo era o problema de binge-watching. Outros estudos, assinados por investigadores diferentes, chegaram à mesma conclusão. Por exemplo, um de autores de Taiwan concluiu que o binge-watching estava associado com a depressão e a ansiedade motivada por encontros ou interações sociais.

O Science Alert cita ainda o exemplo de um estudo português que atribuiu a necessidade dos indivíduos em ver em episódios seguidos à necessidade de esquecer a realidade — tal como referido anteriormente.

No que respeita a traços de personalidade, as pesquisas associam o binge-watching ao que os psicólogos denominam de “baixa consciência” — o que remete para a impulsividade, o descuido e a desorganização) e altos níveis de neurose (um quadro associado à ansiedade e propenso a emoções negativas). O ponto importante das investigações sobre este tópico é que estes traços estão também presentes em indivíduos com vícios em substâncias e álcool, por exemplo.

ZAP //

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