Especialistas em finanças ouvidos pelo The New York Times consideram que mudar de telemóvel anualmente, dando o dispositivo anterior para retoma (quando este ainda tem um valor elevado), não é uma boa aposta, sobretudo a longo prazo.
A compra de um telemóvel novo é encarada pela maioria dos indivíduos com precaução e prudência dados os números que estão atualmente a ser exigidos pelos aparelhos topo de gama nas mais diversas marcas. Um iPhone novo, por exemplo, tem o seu preço situado nos mil euros, valor que Tim Cook, diretor da marca da maçã uma vez comparou, de acordo com os valores praticados nos Estados Unidos da América, à compra de um “copo” de café por dia ao longo de um ano.
A ideia, que pretendia dar aos consumidores um vislumbre do quão baratos poderiam ser os seus smartphones, mas os especialistas têm interpretações (e opiniões distintas). Alguns sugerem, apoiados por estimativas, que tirar, nos dias de hoje, mil dólares das poupanças destinadas à velhice pode representar, daqui a 30 anos, algo como menos 17 mil dólares.
Como? Segundo o The New York Times, uma compra na ordem dos 700 ou 1000 dólares é considerada uma “grande compra”, sendo que são poucos os americanos que dispõe de poupanças suficientes para, por exemplo, cobrir três meses de despesas de emergência — de acordo com o Pew Research Center —, no entanto, um em cada cinco acreditam que a compra de telemóveis é um motivo pelo qual vale a pena entrar em situação de débito.
Os argumentos das empresas de tecnologia aliciam os seus possíveis compradores com a ideia de que os telemóveis, sobretudo os inteligentes são das ferramentas mais importantes no nosso quotidiano, já que neles se conjugam aspetos importantes das vidas pessoais e profissionais. Simultaneamente também jogam com os números, de forma a torná-los mais apelativos fazem os possíveis por esconder os verdadeiros preços dos aparelhos — a Samsung, por exemplo, situa o preço de produção do seu mais recente modelo Galaxy nos 200 dólares, mas só se o comprador der o seu telefone atual para troca. O preço verdadeiro, pelo menos no mercado norte-americano, é de 800 dólares.
Como tal, é preciso encarar a troca de telemóvel de uma forma ligeiramente distinta caso se queira apurar o verdadeiro impacto financeiro da compra — e, assim, tomar a decisão com base na melhor informação.
Suze Orman é conselheira financeira que ficou conhecida por, em 2019, ter defendido que o gastar três dólares por dia em café era equivalente a desperdiçar um milhão de dólares ao longo da vida, já que a pequena quantia poderia ser depositada, por exemplo, numa conta-poupança. Com os telemóveis, aponta, o caminho é semelhante, já que a compra de telemóveis também pode levar à pobreza, sugere Orman. “Será que alguém precisa de um telemóvel novo todos os anos?”, questiona. “Obviamente que não, é um desperdício ridículo de dinheiro”, atira.
Para ajudar os leitores, o The New York Times, colocaram os dados em cima da mesa, estudando qual a opção mais vantajosa: a compra anual de um telemóvel, tirando partido do pouco desgaste que o dispositivo ainda tem e dando-o para troca, ou manter o mesmo durante um período de tempo mais longo.
O iPhone 12, o mais recente da marca norte-americana atualmente em comercialização, custava (novo), no ano passado, 799 dólares. Atualmente vale 460 dólares caso seja dado para troca no momento da compra de um novo telemóvel. O iPhone 13, o último a ser anunciado mas que ainda não foi comercializado, também custará 799 dólares. Por isso, caso o modelo 12 seja dado para retoma no momento da compra do modelo 13, este último pode ser adquirido por 339 dólares. A este ritmo, a compra de um iPhone novo anualmente e durante quatro anos representaria um custo de 1,816 dólares.
Numa outra opção, caso se espere três anos pelo iPhone 15, o valor do iPhone 12, a ser dado para retoma, baixaria significativamente, para algo como 200 dólares. Num processo de troca, o custo do iPhone 13 seria 599 dólares. Se se acrescentar os 799 dólares originais, o custo líquido, durante os quatro anos, seria de 1,398 dólares.
Por isso, escreve o jornal, mudar de telemóvel — os referidos ao longo da peça e com os preços do mercado norte-americano — seria 418 dólares mais caro, algo como 12 dólares por mês do que mudar a cada três anos. Com os números postos desta forma, pode parecer uma ninharia, sobretudo se for fanático por tecnologia. No entanto, a calculadora pode dizer algo muito diferente, sobretudo se remetermos os resultados para poupanças a longo prazo.
O The New York Times sugere que se considere depositar 12 dólares numa contra poupança com uma taxa de retorno de 10%, o que resultaria, no espaço de 30 anos, em 25,161 dólares, de acordo com as contas de Suze Orman, que compara o processo de mudança de telemóvel — assim como os apelos de consumo das marcas — à mudança de carros, muito assentes na ideia de que estes estão sempre a desvalorizar. Na realidade, o que tem vindo a acontecer com os telemóveis, sobretudo os da Apple, é que as tecnologias têm merecido poucas evoluções significativas, pelo que a mudança de dispositivo pode não ser tão compensatória quanto isso.
Se se atentar naqueles que — sobretudo em contexto norte-americano — terão que entrar em situação de débito para adquiri um telemóvel novo, a decisão pode vir a ter um verdadeiro efeito de bola de neve. Um telemóvel com o preço de 1000 dólares comprado com crédito, pode, explica Orman, facilmente aumentar para três mil dólares, ao longo do tempo em que as prestações estão a ser saldadas e ter consequências ao nível de outras áreas importantes, tais como a compra e venda de casas.