MPLA ganha mais de metade dos votos reclamados. Portugal não se mete “naquilo que não é chamado”

Paulo Novais / EPA

Contagem de votos em Luanda

A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola aprovou a ata do resultado final das eleições numa reunião que decorreu esta madrugada e na qual se apurou que o MPLA arrecadou mais de metade dos votos reclamados.

Em declarações à Televisão Pública de Angola, o porta-voz da CNE, Lucas Quilundo, indicou que foi aprovada a ata do apuramento nacional e que o resultado definitivo será divulgado pelo presidente da comissão durante um ato solene ainda a agendar.

Dos 11.153 votos reclamados, 7.925 foram considerados válidos. Destes, foram atribuídos 4.360 ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e 2.935 à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) com os restantes a serem distribuídos pelos outros partidos.

A Aliança Patriótica Nacional (APN) obteve mais 67 votos, a Frente Nacional de Libertação de Angola, mais 168, Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), conseguiu 73, o Partido Nacionalista para a Justiça (P-NJANGO), 54, o Partido Humanista de Angola, mais 117 e o Partido de Renovação Social, mais 148. Foram identificados também 3.228 votos nulos.

O anúncio foi feito no final de uma reunião plenária que se prolongou pela madrugada e onde foram apreciados os votos reclamados e aprovadas as atas sínteses das comissões eleitorais provinciais.

Com a finalização do apuramento, a CNE vai notificar os partidos políticos e produzir duas atas, uma para o Presidente da República e outra dirigida ao Tribunal Constitucional (TC).

Os partidos terão 72 horas para fazer chegar reclamações junto do TC que tem também 72 horas para responder

A UNITA contestou na sexta-feira uma possível vitória do MPLA, indicando que estava a desenvolver uma contagem de votos paralela, com base nas atas síntese provenientes das 18 províncias do país.

Segundo dados divulgados anteriormente pela CNE, quando estavam escrutinados 97,03% dos votos das eleições realizadas na passada quarta-feira, o MPLA, no poder desde 1975, venceu as eleições gerais de Angola com 51,07%, seguido da UNITA com 44,05% dos votos.

De acordo com estes dados, o MPLA, obtivera 3.162.801 votos, menos um milhão de boletins escrutinados do que em 2017, quando obteve 4.115.302 votos.

Já a UNITA fica com 90 assentos parlamentares, elegendo deputados em 17 das 18 províncias e obtendo uma vitória histórica em Luanda, a maior província do país, conseguindo até então 2.727.885 votos, enquanto em 2017 obtivera 1.800.860 boletins favoráveis.

No entanto, o líder da UNITA contestou na sexta-feira a vitória do MPLA e pediu uma comissão internacional para comparar as atas eleitorais na posse do partido com as da CNE.

Isabel dos Santos desconfia dos resultados

Isabel dos Santos juntou-se ao coro de vozes que manifesta desconfiança quanto ao resultado das recentes eleições em Angola. A filha de José Eduardo dos Santos sugere que os resultados não mostram a vontade do povo angolano e que 83% das pessoas não acredita nos resultados.

“Uma sondagem realizada ontem com 10.000 pessoas mostra que 83% não acredita nos resultados das eleições”, lê-se numa publicação partilhada no Twitter.

“A confiança dos eleitores é muito baixa, os resultados atuais não expressam o verdadeiro desejo do povo angolano”, acrescentou.

“Listas eleitorais continham muitos mortos”

Jorge Carlos Fonseca, chefe da missão de observação da CPLP às eleições angolanas e ex-presidente de Cabo Verde. Embora considere que o processo de votação correu “essencialmente bem”, salienta que houve algumas falhas.

Houve atrasos na abertura, por exemplo, e as listas eleitorais “continham reconhecidamente, muitos mortos, cerca de dois milhões e 700 mil”.

A missão da CPLP ficou “incompleta” no “pouco tempo que lá estiveram”, sublinhou ainda Jorge Carlos Fonseca em declarações à CNN Portugal.

Portugal não se mete “naquilo que não é chamado”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou este domingo que o processo eleitoral em Angola deve ser resolvido internamente pelos angolanos, depois de ter recebido o líder da oposição, Adalberto Costa Júnior, da UNITA.

Neste processo eleitoral que ainda está em curso, “o papel de Portugal é ouvir, respeitar, não se meter naquilo que não é chamado, mas ser naturalmente sensível a estes valores: é um tema angolano, não é um tema internacional, não é um tema que seja resolvido por outras instâncias intermediárias que não sejam os angolanos”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Dois dias depois de Adalberto Costa Júnior ter pedido uma comissão internacional para avaliar as atas eleitorais, já que os dados da UNITA não coincidem com os da Comissão Nacional Eleitoral, Marcelo disse que esta “é uma questão interna angolana”, que deve ser “resolvida entre os angolanos e não por intermediários internacionais, mesmo sendo amigos”, como é o caso de Portugal ou da CPLP.

“Nenhum de nós deve interferir naquilo que é de Angola”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando: “os estrangeiros podem assistir e acompanhar”, mas “é uma questão angolana e está em pleno processo eleitoral”.

ZAP // Lusa

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