Morte do general Salah, que ajudou a manter a paz na Argélia, aumenta a incerteza política no país

Johnny Bivera / U.S. Navy

O general argelino Ahmed Gaid Salah

Por décadas, Ahmed Gaid Salah trabalhou nos bastidores para manter o controle sobre a Argélia, servindo como comandante das forças terrestres durante a guerra civil do país nos anos 90. A sua morte, esta segunda-feira, aumenta a incerteza política na Argélia.

Segundo noticiou o Independent, Salah foi um alto oficial militar durante quase duas décadas de paz e relativa prosperidade e, depois, governante do país durante os últimos 10 meses de turbulência política.

Na segunda-feira, uma semana após o tenente-general ter instalado um novo Presidente no comando do país africano, rico em petróleo, sob as objeções de um massivo movimento nacional de protesto, Salah morreu, sucumbindo a um ataque cardíaco, aos 79 anos. Após a sua morte, foram decretados três dias de luto.

Um substituto, Said Chengriha, foi rapidamente nomeado pelo novo Presidente, Abdelmadjid Tebboune, informou a televisão estatal. Mas a morte de Salah aumenta a incerteza política na Argélia, o maior país de África em território e um fornecedor crucial de energia para a Europa.

Salah, um protegido do ex-Presidente do país, Abdelaziz Bouteflika, finalmente se voltou contra o chefe de Estado no ano passado, pressionando para que fosse expulso, em meio aos protestos populares. Procurou então instalar um sucessor diante de uma população cada vez mais cautelosa com o papel dos militares na política, que o começou a criticar nos protestos e nas redes sociais.

De acordo com o Independent, Salah foi capaz, como poucos outros, de puxar as alavancas do obscuro sistema político da Argélia, usando os seus poderes e a sua influência para prender altos funcionários durante o último ano por acusações de corrupção, na tentativa de apaziguar os manifestantes e redirecionar a sua ira para longe das forças armadas.

“Salah obviamente era a favor do envolvimento dos militares na política”, disse Jalel Harchaoui, especialista do instituto holandês Clingendael. “Demonstrou também uma forte capacidade de influenciar o sistema judicial nos últimos meses. Em relação ao mundo exterior, tornou-se uma figura forte e familiarizou-se com os principais interlocutores, como os estados do Golfo, por exemplo. Tudo isso está no ar agora”, acrescentou.

Contudo, muitos o acusam de exacerbar as tensões entre as comunidades árabe e berbere do país, forçando desnecessariamente as relações ao longo de uma das principais falhas do país, de 40 milhões. “O triste é que ele entrará nos livros de história como herói nacional. E ele não era”, disse ao Independent um dos manifestantes.

Said Chengriha, substituto de Salah, é conhecido como especialista em antiterrorismo. Mas, diferentemente de Salah, o homem de 74 anos é jovem demais para ter participado da guerra dos anos 50 pela independência, conflito que moldou a Argélia e a sua liderança.

Especialistas sugerem que este pode não ser capaz de corresponder à figura nacional e internacional de Salah, abrindo ainda mais as portas aos protestos persistente que mantém-se nas ruas desde fevereiro, com a população a exigir mudanças fundamentais no sistema político da Argélia.

“Ahmed Gaid Salah era antiquado e único”, disse Jalel Harchaoui. “Viajou muito nos últimos anos e nunca acreditou nos esforços dos últimos 30 anos para despolitizar o exército argelino. O seu substituto não é assim. Nasceu em 1945. Parece uma pequena diferença mas essa é uma geração muito diferente em relação à guerra de libertação de 1954-1962”, afirmou o especialista.

ZAP //

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