Mortalidade registada em 2022 foi a terceira mais alta de sempre

Mário Cruz / Lusa

Em 2022 morreram em Portugal 124.792 pessoas, um número abaixo dos 125.231 registados em 2021, considerado o pior ano da pandemia. Foi o segundo pior ano de sempre em termos de mortalidade.

No ano passado, tirando agosto, setembro e outubro, morreram mais dez mil pessoas por mês, segundo avançou esta terça-feira o Correio da Manhã. De acordo com o diário, os primeiros registos da mortalidade, em 1915, apontam para 49.000 mortes, sendo que em 1918 morreram 94.070 pessoas devido à gripe espanhola.

Segundo o Jornal de Notícias, que cita dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o ano mais mortífero em Portugal foi o de 1942, com 126.000 mortes.

“A pandemia de covid-19 explica parte desse agravamento da mortalidade”, indicou ao Correio da Manhã o epidemiologista Carmo Gomes, da Universidade de Lisboa.

Em 2019, antes da pandemia, morreram no país 112.000 pessoas. Em 2020, dos 123.000 óbitos registados, 6.984 ocorreram devido ao coronavírus. Já em 2021, a covid-19 foi responsável por 11.990 mortes e em 2022 por 6.800.

Quanto aos dias, o mais mortal de 2022 foi a 12 dezembro com 470 óbitos. Segue-se o dia 14 de julho, com 459 mortes. O mês de dezembro do ano passado foi o que registou mais óbitos, com 12.197. O ano de 2022 é também o terceiro consecutivo em que os óbito ficam acima dos 120 mil.

“A morte por outras doenças por estar associada, de uma forma indireta, à covid-19, que atinge uma grande variedade de órgãos”, indicou Carmo Gomes, acrescentando que “há uma linha crescente de óbitos, que surgiu muito antes da pandemia e está associada ao envelhecimento da população”.

O epidemiologista alertou para as novas variantes. Embora a mortalidade pelo coronavírus deva baixar nos próximos meses devido ao facto de “cerca de 75% da população estar imunizada pela vacina contra a pandemia ou por ter tido a infeção”, essa “tendência pode ficar comprometida caso se verifique que aparecimento de uma nova variante da covid-19 mais contagiosa e agressiva  para os idosos”.

Ao Público, Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, referiu que “tudo indica que não vamos ter mais anos abaixo do patamar dos 120 mil óbitos”.

“Por cada ano temos uma média de mais 50 mil pessoas acima dos 65 anos e, como 4,2% das pessoas neste grupo etário morrem, são cerca de mais dois mil óbitos por ano”, sublinhou o especialista.

Já Raquel Duarte, a médica pneumologista que liderou a equipa de peritos que aconselhou o Governo na definição das medidas de combate à pandemia, considera que é preciso “perceber as causas que estão por trás deste excesso de mortalidade”.

“É preciso saber se está associado a determinantes sociais e económicos, se fica a dever-se a um pico de doenças infecciosas, a atrasos nos diagnósticos… Só analisando as causas é que podemos definir as estratégias adequadas. E é importante perceber quantas destas mortes seriam evitáveis”, disse ainda.

Trata-se, na opinião da especialista, de “um fenómeno multifatorial. O envelhecimento é um fator importante mas não podemos ficar por aí”.

O Ministério da Saúde anunciou um estudo sobre a mortalidade em Portugal, desconhecendo-se, para já, quaisquer resultados.

Questionado sobre esta matéria, o subdiretor-geral da Saúde, Rui Portugal, adiantou que o estudo está a ser conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), mas nem este organismo nem o Ministério da Saúde responderam aos pedidos de esclarecimento do Público.

Durante uma recente audição no Parlamento, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, avançou apenas que a Direção-Geral da Saúde e o Insa estavam a preparar um “modelo público de análise da mortalidade a nível nacional nos últimos dois anos, contando com a participação de peritos estrangeiros”.

Taísa Pagno //

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