O lendário pianista e compositor de jazz morreu aos 79 anos, vítima de uma forma rara de cancro, deixando a “esperança” de que o mundo venha a ter ainda “mais arte e diversão”.
Numa mensagem de despedida divulgada pela família do músico através do seu site, Armando Anthony “Chick” Corea agradece aos “formidáveis amigos músicos” que o ajudaram a cumprir “a missão de levar a alegria da criação a todos os lugares possíveis”.
“Ter alcançado esta missão juntamente com os artistas que admiro tanto, esta foi a riqueza da minha vida”, escreve Corea, que morreu esta terça-feira.
Pianista e compositor, surge entre os precursores do jazz de fusão, desde o final dos anos 1960, quando sucedeu a Herbie Hancock, nos agrupamentos do trompetista Miles Davis – com quem trabalhou num dos mais famosos albuns de Jazz de todos os tempos, Bitches Brew – tendo colaborado com músicos como Dave Holland e Jack DeJohnette, cruzando “free jazz”, improvisação e elementos vindos do “rock’n’roll”.
Ao longo de meio século, Chick Corea explorou sempre distintas áreas musicais e as suas zonas de fronteira, e manteve o trabalho com músicos de diferentes expressões. Destaca-se, neste aspeto, o dueto com o pianista austríaco de raiz clássica Friedrich Gulda ou a escolha de peças do compositor húngaro Béla Bartók, para o seu repertório.
Com ascendência espanhola, apelou ao “Concerto de Aranjuez”, de Joaquín Rodrigo, para o prelúdio de uma das suas mais conhecidas obras, “Spain”, e reuniu influências latino-americanas em “My Spanish Heart”.
Na mensagem de despedida, Corea não mencionou alguns dos grandes nomes da música com quem trabalhou, mas a carreira de mais de meio século rendeu-lhe 23 prémios musicais Grammy.
Desde a década de 1960, trabalhou também com Stan Getz ou Herbie Mann, entre outros músicos que despontaram na emergente cena Jazz de Nova Iorque.
A sua própria banda, Return to Forever, é considerada uma das que inaugurou a era do Jazz de fusão.
Uma das mais influentes bandas de Jazz dos anos 1970, os Return to Forever foram sofrendo várias “encarnações”, primeiro com Corea, Stanley Clarke no baixo acústico, Joe Farrell no sax soprano e flauta, Airto Moreira na bateria e percussão e a esposa de Moreira, Flora Purim como vocalista.
Em 1972, a banda grava o álbum Light as a Feather, uma coleção de melodias de Jazz com sabor brasileiro, incluindo novas versões de “500 Miles High” e “Captain Marvel” e ainda aquela que o próprio Corea considerava a sua composição mais conhecida, “Spain”.
Pela banda passaram ainda o guitarrista Bill Connors, o baterista Lenny White e Al Di Meola, que mais tarde viria a tornar-se um virtuoso da guitarra jazz.
Foi também nos Return to Forever que Corea conheceu aquela que se viria a tornar a sua mulher, a vocalista Gayle Moran.
O seu último álbum, Plays, de 2020, é um testemunho ao virtuosismo e ecletismo de Corea, dentro de estilos que ajudou a tornar incontornáveis, como o Jazz bebop, e até música clássica.
De acordo com a família, a forma rara de cancro que vitimou o lendário músico foi descoberta “muito recentemente”.
Apesar de “ele ser o primeiro a dizer que a sua música dizia mais do que alguma vez as palavras conseguiriam”, refere a família, Corea quis deixar umas últimas palavras aos seus amigos e pessoas amadas.
“É minha esperança que todos os que tenham inspiração para escrever, tocar, interpretar ou outro o façam”, diz Corea na sua última mensagem. “Se não por vocês, então façam-no pelo resto de nós. Não se trata apenas de o mundo precisar de mais artistas, também é muito divertido”, escreveu o pianista.
Ao longo da carreira, Chick Corea somou diversas de atuações em Portugal, entre Lisboa e Porto, Cascais, Funchal, Faro, tendo atuado na casa da Música, nos Coliseus e em diferentes edições do Jazz em Agosto, da Fundação Calouste Gulbenkian, assim como no antigo festival Seixal Jazz.
Trouxe diferentes formações a Portugal, como a Chick Corea Elektric Band, que levou aos coliseus de Lisboa e Porto, em 1992. Tocou a solo, como no concerto da Lisboa 94 – Capital da Cultura, no Teatro S. Luiz, e apresentou-se em duo, com a cumplicidade de Herbie Hancock, no seu último concerto no país, em 2015, no cooljazz, em Oeiras.
Um ano antes incluiu o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, na sua digressão mundial e, em 2013, foi um dos nomes em destaque no festival de jazz do Funchal.
Entre os seus últimos concertos em Portugal está também a participação no Algarve Jazz, em 2009, no mesmo ano em que foi cabeça de cartaz no Estoril Jazz.
// Lusa
Mais un GRANDE, que se foi !