Morreu misteriosamente o ex-funcionário da Boeing que testemunhou contra a empresa

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Depois de relatar falhas graves de segurança na fábrica da gigante aeroespacial onde era gestor de qualidade, John Barnett foi encontrado morto no estacionamento de um hotel quando prestava declarações sobre o caso.  

Um ex-funcionário da Boeing, conhecido por ter levantado preocupações acerca dos padrões de produção da empresa, foi encontrado morto nos EUA, vítima de uma “lesão autoinfligida” a 9 de março, e o caso já motivou uma investigação das autoridades.

John Barnett trabalhou na produtora de aviões durante 32 anos, antes de se reformar, em 2017. Nos dias que antecederam a sua morte, estava a testemunhar num processo movido por denunciantes contra a empresa.

A Boeing lamentou a notícia da morte do seu ex-funcionário que desempenhou funções como gestor de qualidade na fábrica de North Charleston, onde eram fabricados os 787 Dreamliner, um avião de última geração usado principalmente em rotas de longo curso.

Já em 2019, Barnett disse à BBC que alguns trabalhadores foram pressionados para instalarem peças de qualidade inferior nas aeronaves em produção. O norte-americano também relatou problemas graves nos sistemas de oxigénio que poderiam fazer com que cerca de um quarto das máscaras de oxigénio não funcionarem numa emergência.

O homem que morreu recentemente disse que pouco depois de começar a trabalhar na Carolina do Sul manifestou preocupação com a pressa da fábrica a construir novos aviões — precipitação que comprometia a segurança, algo que a empresa negou. Apesar dos crescentes conflitos com uma gigante aeroespacial, o trabalhador continuou a denunciar situações polémicas.

Mais tarde, confessou que os trabalhadores não seguiam os procedimentos corretos para confirmar a qualidade dos componentes. Barnett disse que em alguns casos, peças de qualidade inferior foram recuperadas até mesmo de contentores do lixo e instaladas em aviões em construção para evitar atrasos na linha de produção.

O ex-funcionário também alegou que testes nos sistemas de oxigénio de emergência destinados ao 787 mostraram uma taxa de falha de 25% —  significa isto que um em cada quatro poderia falhar num verdadeiro cenário de emergência.

Quando alertou os gestores acerca das suas preocupações, nenhuma ação foi tomada, confessa à BBC.

Boeing foi “apanhada”

A Boeing negou as suas alegações, mas uma revisão de 2017 da Administração Federal de Aviação (FAA), a agência reguladora dos EUA, corroborou algumas das denúncias de Barnett.

Foi estabelecido que a localização de pelo menos 53 peças “não conformes” na fábrica era desconhecida, e foram consideradas perdidas. A Boeing foi obrigada a tomar medidas corretivas.

Sobre o problema dos cilindros de oxigénio, a empresa afirmou que, em 2017, havia “identificado alguns cilindros de oxigénio recebidos do fornecedor que não estavam a funcionar corretamente”. No entanto, negou que algum deles tenha sido realmente instalado em aeronaves.

Uma morte misteriosa

Depois de se reformar, Barnett iniciou uma longa ação judicial contra a empresa, acusando-a de difamar o seu caráter e prejudicar a sua carreira devido aos problemas que apontou — acusações que foram rejeitadas pela Boeing. Quando morreu, Barnett estava em Charleston para realizar entrevistas legais relacionadas ao caso que construiu contra a Boeing.

Na semana passada, prestou depoimento formal e foi interrogado pelos advogados da Boeing antes de ser questionado pelos seus próprios representantes legais.

Deveria passar por mais interrogatórios no sábado, mas não compareceu. Depois de investigarem o seu hotel, encontraram-no morto no estacionamento. O seu advogado descreveu a sua morte como “trágica” em entrevista à BBC.

A sua morte ocorre num momento em que os padrões de produção tanto da Boeing como do seu principal fornecedor, Spirit Aerosystems, estão sob intenso escrutínio após um incidente no início de janeiro, quando uma porta de emergência não utilizada se soltou de um Boeing 737 Max novo.

ZAP // BBC

 

 

 

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