Um Grupo de associados da Associação Mutualista Montepio Geral critica a gestão dos últimos anos, nomeadamente no tempo de Tomás Correia, alertando que o grupo “Montepio está em risco” e apelando à intervenção “urgente” do Governo para o “salvar”.
Um grupo de associados da mutualista Montepio (que nas últimas eleições concorreram em listas de oposição à actual direção) consideram que “é grave a situação do Montepio, mas não é irreversível”, conforme declarações prestadas numa conferência de imprensa online.
Contudo, “não está ao alcance da actual administração inverter [a situação]” e colocar a associação e o banco num “rumo sustentável”, alertam ainda, salientando que é “urgente” engendrar “um plano para salvar o Montepio em colaboração com o Governo”.
As declarações são do professor universitário Pedro Corte Real na apresentação do manifesto de um grupo de associados que inclui João Costa Pinto (ex-administrador do Banco de Portugal e actual membro do Conselho Geral da mutualista), Eugénio Rosa (ex-membro do Conselho Geral da mutualista), Viriato Silva (membro do Conselho Geral da mutualista), Mário Valadas (professor universitário), Fernando Ribeiro Mendes (ex-administrador da mutualista e candidato a presidente nas últimas eleições) e João Proença (ex-líder da UGT).
“O Montepio não demonstra capacidade para gerar resultados tributáveis suficientes” e “está em risco na sua continuidade”, atesta Pedro Corte Real já em entrevista à Rádio Observador, citando o que vem inscrito no Relatório e Contas de 2019.
Este associado acrescenta que o documento também nota que “se encontram sobreavaliados por montante materialmente relevante uma quantidade de activos da instituição”.
Assim, Pedro Corte Real destaca que é preciso “agir o quanto antes”. “A situação é difícil, mas é ainda reversível com soluções que não descaracterizem completamente o princípio fundador do Montepio”, diz.
“Banco Montepio tem problema de falta de crédito”
“O Banco Montepio tem um problema de falta de crédito”, analisa ainda o associado, considerando que “um banco vende dinheiro, vive dos seus empréstimos”, o que faz com que tenha “alguma dificuldade em concorrer no mercado doméstico”.
A Associação Mutualista tem financiado o Banco, mas “não tem mais capacidade para continuar” a fazê-lo, “não pode, nem deve”, entende o professor universitário.
Deste modo, é importante que o Governo intervenha para “salvar o Montepio”, defendem estes associados.
Mas para que isso aconteça é preciso que a actual administração reconheça que “precisa de apoio e em que formato é que esse apoio é necessário, para recuperar a sanidade financeira de longo prazo da instituição”, sustenta Pedro Corte Real na Rádio Observador.
Todavia, nesta altura, a administração de Virgílio Lima está em “negação total” face à situação, considera este associado.
Tomás Correia “desviou muito a instituição”
Quanto ao que levou a que o grupo Montepio alcançasse esta situação difícil, Pedro Corte Real fala do “acontecimento sistémico” que é a pandemia de covid-19 como tendo contribuído para isso, mas atribui, sobretudo, culpas à administração de Tomás Correia, anterior presidente da Mutualista e do Banco Montepio.
Na óptica de Pedro Corte Real, Tomás Correia “desviou muito, muito a instituição do que são os seus objectivos iniciais”. “A instituição transfigurou-se”, nota ainda na Rádio Observador.
O professor universitário diz que os financiamentos da Mutualista ao Banco poderiam “não ser maus se os negócios efectuados se traduzissem em valor acrescentado para os associados”.
Mas “entramos num processo de utilização do Banco para financiamento de projectos que são completamente injustificáveis à luz das boas práticas na condução da gestão de um negócio bancário”, acrescenta Pedro Corte Real.
Solução pode passar por um “Banco mau”
Já sobre de que modo poderia ser feita uma intervenção no grupo Montepio, João Costa Pinto, outro dos associados do manifesto, refere que o colectivo não tem uma solução.
Contudo, João Costa Pinto considera que, tendo em conta que os desequilíbrios na mutualista vêm das perdas registadas no banco, uma solução seria o reequilíbrio da instituição bancária com a passagem para um ‘banco mau’ dos ativos problemáticos (crédito malparado e imóveis).
Assim, o banco ficaria liberto desse peso e também libertaria capital para poder voltar a ter um papel activo no sistema bancário comercial, analisa o ex-administrador do Banco de Portugal.
Essa operação pode ser articulada com outro tipo de operações, por exemplo, de aumento de capital, entende ainda o actual membro do Conselho Geral da mutualista.
O importante é que “no final seja garantido o controlo do banco pela Associação Mutualista”, frisa João Costa Pinto.
Já sobre uma eventual operação pública no Montepio, refere que teria um “custo controlado”. “Não se pede uma operação irrazoável nem da natureza da do Novo Banco, com as consequências que conhecemos”, afirma.
Mário Valadas, outro dos associados do manifesto, vinca que a assegurar as poupanças dos associados que não estão cobertas pelo fundo de garantia de depósitos “pode vir a constituir parte da solução”.
“O Governo está informado da situação do Montepio, não é por falta de informação nem por falta de consciência da situação que o Governo não actuará”, refere ainda este professor universitário.
Eugénio Rosa, ex-membro do Conselho Geral da mutualista, foi mais duro com o Governo considerando que este também será responsável se algo acontecer, até porque o Ministério do Trabalho tem a supervisão da Mutualista e Mário Centeno, enquanto ministro das Finanças, disse que o Governo não deixaria o grupo cair.
O economista estima o desequilíbrio financeiro na Mutualista na ordem dos 500 milhões de euros, se forem retirados o que designa de “activos fictícios”, como os activos por impostos diferidos.
Eugénio Rosa afirma ainda que por várias vezes se reuniu com o ex-ministro do Trabalho, Vieira da Silva, chamando a atenção para irregularidades na Mutualista, como o facto de usar as poupanças dos associados além do limite estabelecido na lei, mas sem sucesso.
A Associação Mutualista Montepio Geral tem mais de 600 mil associados e é o topo do grupo Montepio, tendo como principal empresa o banco Montepio.
Virgílio Lima é o seu presidente desde Dezembro de 2019 quando sucedeu a Tomás Correia que foi presidente durante 11 anos. Desde então, vários associados têm pedido eleições antecipadas.
Em 2019, a mutualista teve lucros consolidados de seis milhões de euros. Já em termos individuais, registou prejuízos de 408,8 milhões de euros, devido ao reforço de imparidades sobretudo para o banco Montepio (por imposição da auditora PWC).
Ainda assim, a auditora colocou uma reserva por considerar que a Mutualista não tem condições de recuperar os 800 milhões de euros em activos por impostos diferidos registados nas contas (operação feita em 2017 e que foi bastante polémica).
O banco Montepio está actualmente em processo de reestruturação, o qual prevê a saída de entre 600 a 900 trabalhadores nos próximos anos.
ZAP // Lusa
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