Em 2006, Montenegro tornou-se independente e separou-se pacificamente da Sérvia. O país, com apenas 640 mil habitantes, é agora uma democracia estável e inclusiva – mas nem sempre foi assim.
Após uma década de sangrentas guerras civis, que incluíram limpeza étnica e atos de genocídio, a Jugoslávia na década de 1990 dividiu-se violentamente em seis diferentes repúblicas independentes. Montenegro permaneceu com a Sérvia, o seu vizinho dominante e aliado da Rússia, escapando do pior da guerra.
Depois de se ter tornado independente, em 2006, Montenegro abriu a porta a todos os tipos de pessoas: ortodoxos, muçulmanos, judeus, católicos e ateus, mas também bósnios, albaneses, croatas católicos romanos e sérvios.
O sistema político não favorecia nem as minorias, nem as maiorias e muitos refugiados das guerras dos Balcãs procuraram também segurança no pequeno país.
A história de sucesso de Montenegro – assim como a sua própria identidade nacional – está agora em perigo depois de uma coligação de direita alinhada com a Sérvia e com a Rússia ter assumido o poder em dezembro.
A questão linguística e uma história que se repete
Todas as ex-repúblicas jugoslavas partilham uma linguagem mutuamente inteligível. No entanto, desde a separação, cada nova nação dos Balcãs tem usado a língua para criar a sua própria identidade política e cultural, estabelecendo uma língua e padronizando o seu uso.
Num artigo assinado no The Conversation, Marc Greenberg, professor de Línguas e Literaturas Eslavas na Universidade do Kansas, explica que uns foram mais bem sucedidos do que outros. O montenegrino, por exemplo, continua a ser contestado.
Apesar de ser usado por cidadãos que defendem uma sociedade inclusiva e multiétnica, aqueles que veem Montenegro como uma extensão do estado sérvio consideram a língua um dialeto.
O novo governo de coligação parece estar do lado dos sérvios na questão linguística.
Em março, a nova ministra da Educação, Ciência, Cultura e Desporto, Vesna Bratić, ameaçou encerrar a Faculdade de Língua e Literatura Montenegrina e bloqueou o seu financiamento desde janeiro. O instituto tem liderado esforços para padronizar a língua e fomentar bolsas de estudo sobre literatura e cultura montenegrina.
Num país jovem que ainda está a moldar a sua identidade nacional, “apagar” a língua que uniu o povo é o mesmo que eliminar a identidade montenegrina. O professor defende que, hoje, a língua é um símbolo de luta política no país.
A nova liderança política de Montenegro está ideologicamente alinhada com a Sérvia e com a Rússia e a sua jovem democracia pode mesmo estar em perigo. Muitos montenegrinos receiam, inclusivamente, que a hegemonia cultural sérvia anule o progresso na construção da nação e afaste Montenegro dos valores europeus.
As guerras dos Balcãs são ainda uma memória recente para os cidadãos, que temem até o início de um conflito étnico.
Ui… isto tem muito por onde correr mal!…