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Montemor-o-Velho inundado. Dique em risco de ruir colapsou

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Paulo Novais / Lusa

O dique do leito periférico direito do rio Mondego colapsou. Eram cerca das 22h. A informação foi confirmada pelo presidente da autarquia, Emílio Torrão, que desde sábado acompanha todos os trabalhos da proteção civil na região.

A situação veio fazer com que os trabalhos de reforço dos diques em rotura se estendessem pela noite dentro. Aos jornalistas, o autarca de Montemor-o-Velho disse já ter informado o ministro do Ambiente sobre a situação, dando conta de que os trabalhos de reforço deste dique e de um outro, onde houve também uma rutura, vão continuar e são agora a prioridade.

Emílio Torrão referiu ainda ter pedido ao governante para que solicitasse à EDP para não realizar descargas de água para que a situação comece a normalizar.

Segundo explicou, o objetivo é evitar que as águas subam e inundem a zona baixa da vila de Montemor-o-Velho. Neste momento, aquilo que há a fazer é avaliar e monitorizar as duas situações de rutura para se as águas subirem se tomarem decisões sobre o que fazer.

Emílio Torrão referiu ainda que, por agora, “a situação está estável”, não havendo necessidade de se “procederá à evacuação de mais população”. “Esta água vai voltar de novo ao rio Mondego”, frisou

Emílio Torrão referiu ainda que, por agora, “a situação está estável”, não havendo necessidade de se “procederá à evacuação de mais população”. “Esta água vai voltar de novo ao rio Mondego”, frisou.

Carlos Luís Tavares, Comandante Operacional Distrital (CODIS) de Coimbra, explicou aos jornalistas que o que está a ser feito resulta na criação de “um mecanismo de defesa na margem oposta [àquela onde foi identificado o deslizamento de terras]. Ou seja, de resistência, através de pedra, através de tela e de bigbags [sacos] de areia, para impedir a subida das águas”.

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Publicado por Marinha Portuguesa em Domingo, 22 de dezembro de 2019

Ao início da tarde de domingo, a rotura iminente do dique obrigou à evacuação da zona baixa da localidade do Casal Novo do Rio. A população de Montemor-o-Velho não esquece que nas cheias de 2001, a rotura dos diques do leito periférico direito destruiu a ponte das Lavandeiras e inundou a vila e a povoação de Ereira.

À noite, a situação mais preocupante era a do distrito de Coimbra, pois as situações registadas nos rios Douro, Tâmega, Tua e no Tejo já se encontravam estáveis e a tender para a normalidade. “Os caudais estão a recuperar aquilo que são os seus limites normais”, afirmou o comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), Duarte Costa, na conferência de imprensa das 20h, em que foi feito o balanço de domingo.

Na conferência foi ainda referido que só se registaram 408 ocorrências, o que significa que “se está a voltar à normalidade”, sublinhou o comandante. Para já permanecem 144 pessoas desalojadas e 352 deslocadas preventivamente, a maioria decorrente da subida do caudal do rio do Mondego.

Questionado pelos jornalistas sobre a decisão de não terem sido enviados SMS de alerta aos cidadãos sobre os riscos da depressão Elsa e Fabien, Duarte da Costa respondeu que a Proteção Civil optou por “meios mais eficazes”.

Desde quarta-feira e até este domingo, o mau tempo provocado pela depressão Elsa e depois pela depressão Fabien, já provocou 11.600 ocorrências – entre inundações, condicionamentos na circulação rodoviária, danos na rede elétrica -, o que afetou a distribuição de energia a milhares de pessoas, em especial na região Centro.

A previsão do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) aponta para uma melhoria do estado do tempo já a partir desta segunda-feira, com as temperaturas a subir, mais do que o normal para a época, e o regresso do sol.

Quercus tinha antecipado cheias no Baixo Mondego

A associação ambientalista Quercus disse que já em 2018 tinha antecipado um cenário de cheias no Baixo Mondego decorrente da deposição de inertes após as obras de desassoreamento da albufeira do açude-ponte em Coimbra.

“A Quercus relembra que este era um cenário que antecipámos. Lamentavelmente, os alertas de nada serviram e centenas de pessoas veem as suas casas em risco”, refere aquela associação, numa nota enviada à agência Lusa.

No documento, a Quercus anexa um comunicado divulgado em 25 de julho de 2018, com o título “Construção de aterro do rio Mondego é um absurdo – Quercus alerta para o risco de cheias no baixo Mondego”. Nesse comunicado, a Quercus dizia que “o gigantesco aterro que está a ser efetuado no rio Mondego vai provocar graves problemas em termos de retorno das cheias e assoreamento do rio, com prejuízos para todo o vale do Mondego a jusante de Coimbra, nomeadamente para a produção agrícola e nas localidades ribeirinhas.

A associação acrescentava ainda que a delegação do Centro da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) não permitiu a consulta da documentação do processo e que por isso pediu, na altura, o “esclarecimento público e a responsabilização pelos prejuízos decorrentes deste projeto”.

“O projeto previa dragar o rio Mondego, com três localizações possíveis para a deposição temporária dos inertes dragados em cerca de 50 hectares, junto da cidade de Coimbra. No entanto, também previa que os inertes excedentários fossem depositados no leito do rio a jusante do açude-ponte, apesar de existirem estudos que referem que este troço do Mondego está também assoreado. Deste modo, a decisão da APA – Agência Portuguesa do Ambiente – de permitir a deposição dos inertes no leito do rio no baixo Mondego foi incompreensível”, dizia ainda o comunicado de 2018.

Os impactes sobre a fauna fluvial e nomeadamente sobre os peixes migradores, de que são exemplo o sável, a lampreia-marinha ou a enguia-europeia, não foram devidamente acautelados, também questionou na altura a Quercus.

Apesar de tudo, o comunicado garantia que o “’Desassoreamento da Albufeira do Açude-Ponte em Coimbra’ promovido pela APA – Agência Portuguesa do Ambiente e Câmara Municipal de Coimbra é necessário, devido à má gestão da bacia hidrográfica do rio Mondego e tem como objetivo principal reduzir o risco de cheias na cidade de Coimbra”.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. Infelizmente estes recursos naturais, areias lavadas saídas do açude Coimbra, poderiam ter servido para muitas obras e recuperado parte do dinheiro investido.
    Preferiram transportar as areias novamente para o rio, ou seja, assoreando o mesmo diminuindo a capacidade de vazão do mesmo, fazendo transbordar o mesmo e roturas dos diques e por sua vez as grandes cheias.
    Conclusão: limpar os rios sim para aumentar a capacidade de transporte de água, mas aproveitar os inertes para fins uteis à sociedade.

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