Os militares no poder em Myanmar (antiga Birmânia) alargaram esta segunda-feira a lei marcial a mais quatro distritos de Rangum, depois de dezenas de manifestantes terem morrido num ataque das forças de segurança, no fim de semana.
Num anúncio transmitido na emissora pública MRTV, controlada pela junta militar desde o golpe de 1 de fevereiro, as autoridades impuseram a lei marcial para os distritos de Dangon Norte, Dagon Sul, Dagon Seikkan e Okkalapa Norte, áreas industriais e densamente povoadas.
A decisão surgiu depois de a mesma medida ter sido imposta, no domingo à noite, no distrito de Hlaing Than Yar, a noroeste de Rangum, onde no domingo 22 civis foram mortos e 20 ficaram feridos, três deles em estado crítico, na sequência da repressão brutal pela polícia e soldados, e em Shwepyitha.
A organização não-governamental Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP) denunciou que mais de 125 pessoas morreram durante a repressão das manifestações contra o golpe de Estado militar de 1 de fevereiro.
Só no domingo morreram pelo menos 38 pessoas, a maioria em Rangum, onde as forças de segurança dispararam munições reais contra manifestantes em pelo menos nove bairros da cidade, a mais populosa do país e antiga capital.
Noutras cidades do país, como Bago, Mandalay e Hpakant, também foram registadas mortes no domingo devido aos tiros disparados pelas forças de segurança.
A AAPP disse que desde a revolta militar foram detidas mais de 2.150 pessoas, 319 das quais já foram libertadas.
“O amanhecer está próximo”
O líder interino do governo civil paralelo de Myanmar disse que vaiprocurar dar às pessoas o direito legal de se defender. “Este é o momento mais negro da nação e o momento em que o amanhecer está próximo”, disse Mahn Win Khaing Than, que fugiu juntamente com a maioria dos altos funcionários do governante Partido da Liga Nacional para a Democracia.
“Este é também um momento de testar os nossos cidadãos para ver até que ponto podemos resistir a estes tempos mais sombrios”, acrescentou, dirigindo-se ao público num vídeo publicado no Facebook no sábado.
Segundo Mahn Win Khaing Than, o governo civil “tentará legislar as leis necessárias para que as pessoas tenham o direito de se defender” contra a repressão militar.
O discurso no sábado foi a primeira aparição na qualidade de vice-presidente interino de um “parlamento” paralelo chamado Comité de Representação de Pyidaungsu Hluttaw (CRPH), e ecoaram os apelos do movimento anti-golpe por uma “democracia federal” – que permitir que grupos de minorias étnicas tenham um papel na governação de Myanmar.
“Este levante é também a oportunidade para todos nós lutarmos juntos para estabelecer uma união democrática federal”, disse. “Devemos vencer a revolta.”
A junta militar deteve a maioria do Governo eleito, incluindo a líder, Aung San Suu Kyi, e o Presidente, Win Myint, na manhã do golpe, além de cancelar a posse da legislatura marcada para o mesmo dia.
Os militares justificaram o golpe com uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro passado, que o partido da líder deposta Aung San Suu Kyi venceu por grande margem e observadores internacionais consideraram legítimas.
Maria Campos, ZAP // Lusa