Socializar mais, acabar com o TOC… são inúmeras as possibilidades que já podem ser feitas com ratinhos.
As ligações entre as células, conhecidas por sinapses, podem ser químicas ou elétricas. As mais comuns em mamíferos são as primeiras.
“Queríamos saber se podíamos conceber uma forma de contornar as sinapses químicas entre as células, colocando aí uma sinapse elétrica”, começa por explicar o cientista Kafui Dzirasa à New Scientist.
Muitos problemas de saúde mental parecem ocorrer quando algo corre mal no sistema de sinalização baseado em neurotransmissores. Por isso, uma equipa da Universidade de Duke procurou proteínas noutros organismos— acabaram por escolher as conexinas chamadas 34.7 e 35, encontradas num peixe chamado perca branca (Morone americana).
“Encontrámos as conexinas através da pesquisa de uma quantidade incrível de literatura para encontrar proteínas com exatamente as propriedades com as quais gostaríamos de criar um sistema humano”,diz o cientista.
“Implantámos muitos elétrodos do tamanho de um cabelo em muitas áreas do cérebro de ratinhos ao mesmo tempo e depois registámos a sua atividade elétrica”, narra Dzirasa o processo. “Isto dá-nos um mapa elétrico da forma como a informação flui através do cérebro”.
Durante a experiência, os cientistas submeteram os ratinhos a situações que induzem ansiedade ou agressão, para identificar as células cerebrais que deveriam receber a sinapse modificada.
De seguida, injetaram um vírus inofensivo no cérebro dos ratinhos para fornecer a informação genética necessária para produzir as conexinas. O resultado? Sinapses eléctricas funcionais que alteraram a forma como a eletricidade se movia num microcircuito no córtex frontal.
“Estes padrões de expressão genética são como um indicador GPS”, diz Dzirasa.
Ratinhos mais sociáveis, menos ansiosos e uma esperança para portadores de doenças mentais relacionadas com ansiedade social ou transtorno obsessivo compulsivo (TOC). O estudo está disponível na bioRxiv.
“Criámos uma abordagem para editar a ligação entre as células, permitindo uma religação específica do cérebro”, afirma Dzirasa. “Tem o potencial de editar muitos tipos diferentes de défices de ligação induzidos geneticamente para prevenir a emergência de perturbações psiquiátricas.”
“É provável que constitua uma ferramenta útil para responder à questão de saber o que aconteceria aos padrões de atividade e aos comportamentos se acrescentássemos sinapses elétricas a tipos específicos de células em circuitos neuronais”, comenta o investigador David Spray.
Agora, o objetivo é avançar na investigação até que esta abordagem possa ser feita em humanos. O autor principal comenta que “só quero ter a certeza de que há algo disponível para as pessoas se precisarem”.