O nome de Cristiano Ronaldo foi apagado dos registos dos beneficiários de empresas com sede no Luxemburgo, mas, ainda assim, a investigação OpenLux chegou a alguns dos negócios que fez com a sociedade que teve naquele país até ao ano passado.
Em Maio de 2020, a sociedade de Cristiano Ronaldo, CRS Holding, que estava sedeada no Luxemburgo e tinha um capital social ligeiramente superior a 16 milhões de euros, foi dissolvida.
O futebolista resolveu transferir esses activos para Lisboa, onde criou a empresa CR Lifestyle Unipessoal Limitada.
Nesse momento, o nome do futebolista desapareceu do Registo dos Beneficiários Efectivos (RBE), uma lista tornada pública pelo Luxemburgo que revela os proprietários das empresas com domicílio no país e que serviu de base à investigação OpenLux, feita por um consórcio internacional de jornalistas.
Uma situação semelhante aconteceu com a lenda do golfe Tiger Woods que estava registado como o beneficiário da Parkridge Holdings que se mudou para o Luxemburgo em 2019, depois de ter estado registada na Holanda, outro país que oferece vantagens fiscais.
Essa holding teria mais de 218 milhões de dólares em activos, mas no fim de 2020, foi dissolvida e transferida para Malta, outro paraíso fiscal.
Aquando dessa dissolução, o nome de Tiger Woods também desapareceu do registo público luxemburguês, como reporta o Miami Herald, um dos media que integra o consórcio de investigação.
“É uma enorme brecha”
Não se pode dizer que a remoção dos registos seja indevida, mas essa possibilidade de remover nomes é um problema no âmbito de investigações em torno de lavagem de dinheiro, por exemplo.
“É uma enorme brecha se a informação pode desaparecer de um dia para o outro. De uma perspectiva investigativa, os registos históricos são críticos na cadeia de evidências”, destaca, em declarações ao Miami Herald, Thom Townsend, director da organização Open Ownership que faz advocacia pela transparência financeira.
“O que vimos nos Panama Papers é que os actores corruptos mudam a propriedade bastante regularmente, para evitar que uma pessoa seja rastreada”, acrescenta ainda, evidenciando assim a falha do registo público que o Luxemburgo utiliza como um grande sinal da transparência do país.
Sócio das irmãs Williams e de Stallone e Ben Affleck
Mas se o Registo dos Beneficiários Efectivos parece não ter memória, ainda assim os jornalistas envolvidos na OpenLux conseguiram detectar várias operações financeiras realizadas pela holding de Ronaldo antes da dissolução. Fizeram-no através dos registos do comércio que detalham as operações das empresas.
Assim, e como reporta a revista financeira luxemburguesa PaperJam, foi possível ter acesso ao relatório de contas de 2019 da CRS Holding, onde se destaca um volume de negócios de 300 mil euros depois de Ronaldo ter pago dívidas superiores a 8 milhões de euros em 2017.
Depois disso, o jogador teve que pagar 18,8 milhões de euros ao Fisco espanhol, no âmbito do processo fiscal de que foi alvo antes de deixar o Real Madrid.
Os registos do comércio revelam ainda a participação de Ronaldo em várias empresas, nomeadamente na área dos hotéis de luxo, na Pestana CR7 (50%), onde as tenistas Serena e Venus Williams também têm acções, e no Carlton Palácio (50%).
Além disso, Cristiano Ronaldo terá também adquirido, através da CRS Holding, uma participação na UFC Co-Investment Holdco, a empresa que controla o Ultimate Fighting Championship que organiza o mais importante campeonato do mundo de Artes Marciais Mistas (ou MMA na sigla em Inglês).
Neste caso, o futebolista é “sócio” de outros famosos como os actores Sylvester Stallone e Ben Affleck, e, mais uma vez, as irmãs Williams, e ainda a também tenista Maria Sharapova.
Mais surpreendente é que, conforme avança o PaperJam, Ronaldo também terá adquirido uma participação de 10% num negócio de venda de cenouras pré-embaladas.
Esses activos financeiros estarão, agora, no seio da CR Lifestyle Unipessoal Limitada ou de alguma das outras empresas de que o futebolista é proprietário.
O atleta tem um verdadeiro império em investimentos diversos que vão desde os hotéis de luxo ao imobiliário, passando por uma clínica de tratamentos capilares e por têxteis e perfumes, entre outros.
O dinheiro que Cristiano Ronaldo geria através da CRS Holding, que já tinha sido citada nos Football Leaks, em 2018, é apenas uma gota de água numa fortuna que a Forbes avaliou, no final de 2020, em 880 milhões de euros.