Mitsotakis vai deixar entrar polícia nas universidades gregas

ORESTIS PANAGIOTOU

O líder do Nova Democracia e atual primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis

O novo primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, prometeu que reverter a lei do asilo iria ser uma das suas primeiras medidas e, na próxima semana, o Parlamento deverá votar para abolir a lei.

A lei é uma especificidade grega, com raízes no Renascimento mas ligada também à ditadura, e não tem paralelo em qualquer outro país europeu: a polícia só pode entrar numa universidade se convidada pela reitoria (o que quase nunca acontece).

“As universidades vão ser purgadas de bombas incendiárias, provocadores e traficantes de droga e vão voltar aos estudantes, professores e funcionários”, disse Mitsotakis. Entre as suas prioridades está maior segurança pública, com promessas de aumentar o policiamento, e o armamento da polícia, na capital.

A lei foi aprovada em 1982, por iniciativa do Partido Socialista (PASOK), já depois da queda da ditadura, mas tem a ver com um episódio que ocorreu antes: a perseguição e ataque da polícia da junta militar a estudantes do Politécnico, hoje a Universidade Técnica Nacional de Atenas, em 17 de novembro de 1973. A data é feriado nas instituições de ensino e é comemorada com manifestações à porta do edifício em Atenas.

Segundo uma investigação após a queda da junta, não morreram estudantes quando as forças do regime entraram na universidade, mas morreram 24 pessoas fora do campus. A resistência dos estudantes foi vista como um passo importante para a oposição no ano anterior ao fim da ditadura.

Depois dessa intervenção, este tornou-se “uma espécie de solo sagrado, um monumento à resistência dos estudantes à opressão”, diz o site Greek Reporter.

Uma série de professores pediu recentemente, numa carta aberta, o fim do asilo nas universidades, argumentando que a lei apenas estava a dificultar e às vezes impedir a troca livre de ideias que pretendia promover e, mais, a deixar atos violentos impunes.

A lei tem origens no Renascimento, quando se pretendia “dar aos professores liberdade completa nos programas de ensino sem qualquer forma de intervenção da Igreja ou de políticos”, diziam os cinco professores – incluindo duas antigas ministras da Educação – na carta aberta, que foi vista como um ponto de partida para ajudar Mitsotakis na abolição da lei. A lei chegou a ser brevemente abolida pela Nova Democracia, o partido conservador de Mitsotakis, e novamente reposta pelo Syriza, o partido de esquerda de Alexis Tsipras.

O asilo universitário é “uma instituição histórica e com muito significado, que foi corrompida”, disse o líder do Sindicato dos Professores Universitários, Yiannis Nimatoudis, ao jornal Kathimerini. “Devíamos focar a discussão no asilo que protege o ensino e a investigação, não ao asilo para atos ilegais.”

O novo Governo planeia não só focar-se nas universidades mas também na zona de Exarchia, e rumores de uma intervenção policial já levou grupos anarquistas a prepararem as casas ocupadas para uma potencial intervenção da polícia.

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