As causas da morte do poeta chileno Pablo Neruda continuam a ser um mistério. Mas a investigação vai, agora, ser reaberta para tentar perceber o que realmente se passou.
Neruda, Prémio Nobel da Literatura em 1971, morreu aos 69 anos em 1973, pouco tempo depois do golpe militar que colocou o ditador Augusto Pinochet no poder. Oficialmente, morreu de cancro da próstata.
Mas os familiares do poeta e o Partico Comunista (PC) do Chile, de que Neruda era militante, acreditam que foi assassinado pelo regime de Pinochet.
Foi nesse sentido que o PC e os sobrinhos do escritor apelaram ao Tribunal de Recurso de Santiago para reabrir a investigação à sua morte que tinha sido encerrada. E os magistrados decidiram, por unanimidade, aceitar essa pretensão.
Os juizes do Tribunal de Recurso entendem que “a investigação não foi esgotada” e que “existem procedimentos precisos que poderão contribuir para o esclarecimento dos factos”, conforme cita o jornal chileno La Tercera.
Ex-médico do Exército interrogado
A decisão dos juízes determina a realização de várias diligências, nomeadamente de uma “nova peritagem caligráfica da certidão de óbito” emitida pelo médico de Neruda, Roberto Vargas Salazar, como refere o mesmo jornal.
Além disso, deve ser feita “uma reinterpretação” dos testemunhos de alguns dos especialistas ouvidos, e deve ser inquirido o analista especializado em questões do Chile Peter Kornbluh do Arquivo de Segurança Nacional dos EUA, apontam ainda os magistrados.
Os investigadores devem também interrogar o médico Eduardo Arriagada Rehren, ex-chefe de Saúde do Exército que, em 2017, foi condenado a 20 anos de prisão pelo homicídio qualificado de dois presos em 1981.
Esta condenação veio corroborar as suspeitas de envenenamentos de presidiários nas cadeias chilenas, durante a ditadura de Pinochet, e reforça a hipótese de Neruda ter sido envenenado.
“Mataram-no com uma injecção”
O motorista do escritor, Manuel Araya, que o transportou nos seus últimos meses de vida, disse numa entrevista, em 2011, que “Neruda não morreu de cancro” e que “foi assassinado pela Junta Militar“. “Mataram-no com uma injecção”, apontou.
Em 2013, foram revelados resultados de uma investigação de sete meses, realizada por 15 cientistas forenses, que concluíram que Neruda não foi envenenado.
Mas, dez anos depois, em 2023, um dos sobrinhos do escritor revelou, numa entrevista, que testes forenses realizados em laboratórios dinamarqueses e canadianos indicaram a presença de “uma grande quantidade de Cloristridium botulinum“, uma toxina poderosa que causar a paralisia no sistema nervoso e a morte.
Agora, com a reabertura da investigação, espera-se que, finalmente, se tirem todas as dúvidas e que haja uma resposta definitiva para a misteriosa morte de Pablo Neruda.