O mistério perigoso dos “drones suicidas” do Hamas

Mohammed Saber / EPA

Um idoso palestiniano reage à área destruída após ataques aéreos israelitas em Gaza

Há vários anos que o Hamas gaba o seu programa de drones, que até agora tem tido pouco sucesso — mas há suspeitas que estes dispositivos podem ser o entrave à prometida incursão israelita em Gaza.

No dia 7 de outubro, o Hamas lançou uma série de ataques contra Israel que incluíam drones suicidas. O uso destes aparelhos despertou preocupações quanto à capacidade aérea do grupo e à possibilidade de penetrar o sistema de defesa Cúpula de Ferro de Israel.

As primeiras versões do míssil Qassam eram rudimentares, podendo viajar apenas alguns quilómetros. No entanto, a cada geração sucessiva do míssil, tornaram-se maiores, capazes de voar mais longe e equipados com ogivas maiores.

Mas ao contrário dos seus mísseis não guiados, que são mais fáceis detectar e são concebidos para derrotar as defesas aéreas de Israel sobrecarregando o sistema, os drones são bastante mais difíceis de interceptar, dado voarem baixo e não terem uma trajectória previsível em arco. Serão os drones a arma de que o Hamas estava à espera antes de começar a fazer ataques em massa contra Israel?

As garantias do Hamas

O Hamas tem investido em drones há algum tempo, com um programa amplamente inspirado na tecnologia iraniana.

Por volta de 2014, o Hamas começou gerar preocupação depois de anunciar que tinha penetrado o espaço aéreo israelita, sobrevoando Telavive. Mas os analistas acreditam que, apesar da vangloriação dos militantes, os drones não foram fabricados na Faixa de Gaza e eram provavelmente o Ababil-1, um modelo produzido pelo Irão.

Em 2021, o Hamas soou novamente as trombetas sobre o seu programa de drones supostamente revolucionário. Desta feita, o grupo revelou um modelo totalmente novo: o Shehab.

Os novos drones suicidas foram mostrados em vários vídeos de propaganda, mas revelaram-se novamente ineficazes no terreno, tendo muitos sido interceptados e abatidos pelos sistemas israelitas, explica a Wired.

O grupo islâmico alega ter lançado cerca de 40 drones suicidas desde o início das hostilidades este mês, mas até agora há poucas provas que confirmem quão eficazes eles têm sido.

Apesar de todo o alarde em torno do programa de drones do Hamas, um relatório de Dezembro de 2022 do Centro Internacional de Contra-Terrorismo (ICCT) desvaloriza a ameaça, apontando que os militantes podem carecer do conhecimento técnico necessário para operar estes dispositivos de forma eficaz. “O Hamas não demonstrou qualquer capacidade de usar drones regularmente com sucesso”, concluiu.

Trunfo na manga?

Então se o programa não é eficaz, o que justifica a aposta contínua do Hamas nos drones? O ICCT sugere que tudo pode não passar de um bluff para dissuadir as incursões israelitas: “o grupo está mais preocupado em ser visto a usar drones do que em usá-los de forma eficaz”.

Mas há outra possibilidade. E se o Hamas tem verdadeiramente drones sofisticados e está apenas à espera do momento certo para atacar? Neste caso, os drones podem ser usados contra as forças israelitas que invadam a Faixa de Gaza — onde não terão a protecção da Cúpula de Ferro — e podem ser altamente eficazes para frustrar o ataque terrestre que os responsáveis israelitas têm prometido.

“Não é incomum que não se usem todas as armas decisivas de uma só vez”, explica James Patton Rogers, diretor executivo do Cornell Brooks Tech Policy Institute. “Isso será algo que acontecerá nos próximos dias e semanas? Isto é algo que foi deliberadamente impedido de ser lançado em massa contra Israel?”, questiona.

Embora o Hamas tenha feito grandes alegações sobre as suas capacidades de drones, a falta de provas e impacto sugere que estas podem ser, até agora, mais retóricas do que realidade.

Adriana Peixoto, ZAP //

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