Embora a sua autenticidade seja muito debatida, o suposto pano que cobriu Jesus Cristo após a sua morte ainda é uma das relíquias cristãs mais estudadas que existe.
Existem vários objetos religiosos que são conhecidos por serem peças autênticas da história religiosa. Contudo, por ser tão difícil verificar a sua autenticidade estes permaneceram fora do alcance da ciência.
Há uma exceção: o Sudário de Turim.
Esta relíquia religiosa tem sido alvo de um crescente escrutínio. Trata-se de um lençol retangular que mede cerca de 4 metros de comprimento e 1 metro de largura que é reconhecido como o pano que envolveu o corpo de Jesus depois da sua morte.
A evidência que parece tornar este facto incontornável, é que nesse lençol está impressa uma imagem de um homem nu com as mãos a cobrir as virilhas. Esta marca no pano foi causada por uma descoloração amarelada. São também visíveis manchas de sangue.
A imagem é inconfundível, mas a evidência real da autenticidade do Sudário é contestada. Vários estudos sobre o Sudário têm sido realizados na tentativa de descobrir a verdade.
Hoje em dia, a maior parte das evidências encontradas em relação ao Sudário indicam que este teve origem por volta da Idade Média e que foi criado por mãos humanas. Apesar disso, ainda não há consenso sobre como a imagem foi feita, deixando em aberto uma série de teorias.
Mistério da autenticidade já dura há décadas
O Sudário apareceu pela primeira vez no registo histórico no século XIV, e já nessa altura foi controverso. Uma das primeiras menções registadas do Sudário está numa carta de um bispo francês ao papa, denunciando-o como uma falsificação.
Alguns dos primeiros estudos do Sudário foram feitos por um anatomista francês chamado Yves Delage no início do século XX.
As suas observações apoiaram amplamente a hipótese de que a imagem corresponde a um homem que sofreu ferimentos significativos antes de morrer. Os defensores da autenticidade do Sudário apontam que parece que o homem foi crucificado, com base nas feridas e manchas de sangue.
No entanto, o objeto só foi observado cientificamente nos anos 70. Na altura, um grupo de investigadores do Projeto de Pesquisa do Sudário de Torino (STURP) começou a pesquisa, e nela estavam presentes químicos, físicos e cientistas de várias instituições governamentais dos Estados Unidos.
Ainda assim, o grupo tinha algumas lacunas notáveis de conhecimento pois não estavam presentes arqueólogos, que podiam ser fundamentais para o estudo.
As conclusões da equipa, publicadas em 1981, sugeriam que as origens do Sudário estavam bastante além da compreensão da ciência. “Não existem métodos químicos ou físicos conhecidos que possam explicar a totalidade da imagem, nem qualquer combinação de circunstâncias físicas, químicas, biológicas ou médicas que possa explicar a imagem de forma adequada”, escreveram os autores.
Os especialistas descartaram o uso de qualquer tipo de pigmento na criação da imagem e escreveram que encontraram evidências de sangue no tecido. Além disso, sentiam-se confiantes de que a imagem tinha sido criada pelo contacto com um objeto tridimensional, como é o caso do corpo humano.
Estudos posteriores também alegaram ter encontrado evidências de sangue no Sudário, e uma análise do pólen encontrado no objeto apontou que a sua origem era de algum lugar no Médio Oriente. Neste sentido, foram muitos os estudos que relacionaram os ferimentos aparentes no Sudário aos que Jesus sofre na Bíblia.
Porém, estas evidências não são suficientemente fortes para muitos investigadores, por isso põe em causa a teoria.
Acresce ainda, realça a BBC, que em todos os textos oficiais dedicados a descrever a imagem do Santo Sudário, é possível observar o cuidado em afirmar que a peça estampa “o cadáver de um homem que morreu após ser torturado e crucificado”, sem nunca fazer a ligação direta a Jesus.
Provas duvidosas
O químico Walter McCrone conduziu uma análise independente de amostras emprestadas do Sudário pela equipa do STURP em 1978. A conclusão de McCrone é que o Sudário foi criado por um artista talentoso da Idade Média.
Algumas pesquisas mais recentes vão ao encontro da sua teoria e indicam que algumas das manchas de sangue são irrealistas para um cadáver que estava deitado.
No entanto, a maior evidência contra a autenticidade do Sudário foi conhecida através de uma técnica comummente usada por arqueólogos. Em 1988, uma equipa de cientistas datou com carbono vários pequenos pedaços do Sudário e determinou que este foi criado entre os anos de 1260 e 1390 – mais de mil anos depois de Jesus morrer.
Essas datas também se alinham com a primeira menção histórica do Sudário, no século XIV, bem como com as descobertas de McCrone.
Embora tenha havido várias tentativas de contestar os resultados da datação por carbono, nenhuma delas foi considerada válida, diz o Discover.
O sangue e o pólen, por sua vez, também não indicam necessariamente que o Sudário é real. Como alguns investigadores apontaram, o sangue presente no objeto é vermelho vivo, em vez de vermelho escuro como o verdadeiro sangue seco.
Para explicar a esta diferença, um artigo de 2017 sugere que as manchas são na verdade uma mistura de sangue e pigmentos; pigmentos esses que provavelmente foram aplicados mais tarde.
Por mais lógicas que as teorias sejam, o legado da pesquisa científica sobre o Sudário revela uma curiosa tentativa de casar o rigor da ciência com o mistério da religião.
Existem os que acreditam que a religião não precisa de experiências para provar o seu valor, e os que anseiam por mais evidências. Os devotos da ciência parecem cair entre os últimos.