Mistério adensa-se. Mais dois oligarcas encontrados mortos num hotel

Mortes de magnatas russos têm acontecido nos mesmos contextos: quedas de janelas, sem que qualquer testemunha possa corroborar a versão das autoridades.

A poucos dias do fim do ano, voltou a crescer a lista de oligarcas mortos em circunstâncias. O caso mais recente é o de Pavel Antov, empresário no ramo do processamento de carne, encontrado morto num hotel indiano, dois dias depois de um amigo seu morrer durante a mesma viagem. A dupla encontrava-se numa visita ao Estado de Odisha, no leste da Índia, com o milionário, que também desempenhava funções políticas, a comemorar seu aniversário no hotel.

De acordo com a BBC, Antov era uma figura conhecida na cidade de Vladimir, a leste de Moscovo. No verão passado, teve que negar publicamente ter criticado a guerra da Rússia na Ucrânia depois que uma mensagem que começou a circular pelo WhatsApp e que aparentemente havia sido escrita pelo próprio.

A morte do milionário é a última de uma série de mortes inexplicadas envolvendo magnatas russos desde o início da invasão russa, muitos dos quais criticaram abertamente a guerra. De acordo com os meios de comunicação russos, Antov, com 65 anos, caiu de uma janela do hotel na cidade de Rayagada no domingo. No que respeita à morte do amigo e colega de viagem, Vladimir Budanov, esta ocorreu no morreu hotel, mas na sexta-feira, dia 23 de dezembro.

O superintendente Vivekananda Sharma, da polícia de Odisha, explicou que Budanov sofreu um derrame, com o amigo a ficar “deprimido pelo que aconteceu, o que resultou na sua morte também” — uma aparente tentativa de atribuir a morte a um suicídio. O guia turístico Jitendra Singh, por sua vez, disse aos reportes que Budanov pode ter “consumido muito álcool porque tinha garrafas de bebida”.

“Estamos conscientes da tragédia que aconteceu em Odisha, onde dois dos nossos cidadãos morreram. Um deles é Pavel Antov, membro da Assembleia Legislativa do Vladimir Oblast. Estamos em contacto constante com os familiares dos falecidos, bem como com as autoridades locais. Tanto quanto sabemos, a polícia ainda não vê uma componente criminosa nestes trágicos acontecimentos”, disse a embaixada russa na Índia à NDTV.

O vice-presidente da Assembleia Regional, Vyacheslav Kartukhin, também lamentou o sucedido. “Faleceu o nosso colega, um empresário de sucesso, o filantropo Pavel Antov. Em nome dos deputados da facção Rússia Unida, apresento as minhas profundas condolências a familiares e amigos.”

Segundo a BBC, Pavel Antov fundou a fábrica de processamento de carne Vladimir Standard com a Forbes a avaliar a sua fortuna em 140 milhões de dólares em 2019, o que o colocava no topo da lista de legisladores e funcionários públicos mais ricos da Rússia. O empresário e político desempenhou um papel importante na assembleia legislativa de Vladimir, chefiando um comitê de política agrária e ecologia.

No final de junho passado, Pavel Antov também deu mostras de descontentamento face ao conflito na Ucrânia, mostrando-se contra o ataque de míssil russo a um bloco residencial em Kiev, que motivou a morte de um homem e ferimentos à sua filha de sete anos e à respetiva mãe.

Uma mensagem alegada mensagem extraída da conta WhatsApp de Antov descreveu o processo de salvamento da família. “É extremamente difícil chamar tudo isso de outra coisa senão terror“. Posteriormente, a mensagem foi apagada e Antov recorreu às redes sociais para reforçar o seu apoio a Vladimir Putin, um “patriota do meu país” e à guerra.

Antov insistiu que a mensagem do WhatsApp “veio de alguém cuja opinião sobre a operação militar especial na Ucrânia ele discordava veementemente“. Acrescentou ainda que a mensagem havia sido publicada acidentalmente na sua conta, com a situação a tratar-se de um “mal-entendido muito irritante”.

Como referido, o nome de Pavel Antov é o nome mais recente a engrossar a lista de magnatas russos que morreram em circunstâncias misteriosas desde o início da guerra na Ucrânia. Em setembro, também o chefe da gigante petrolífera russa Lukoil, Ravil Maganov, caiu da janela de um hospital em Moscou.