A leiloeira Christie’s afirmou-se esta quarta-feira disposta a realizar o leilão dos 85 quadros de Miró, provenientes do antigo Banco Português de Negócios (ex-BPN), depois de resolvido o diferendo, nos tribunais portugueses.
A declaração da leiloeira foi feita depois de o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, a ter responsabilizado pela gestão da venda – incluindo o processo de saída dos quadros de Portugal – afirmando que o Governo permanecia decidido a vender “a curto prazo” as obras de Miró do ex-BPN.
As afirmações de Passos Coelho vão ao encontro do comunicado da Parvalorem, a empresa estatal constituída para a recuperação de créditos do antigo Banco Português de Negócios, após a sua nacionalização, que, em comunicado, esclareceu que “o modelo de contrato escolhido responsabiliza a Christie’s por todas as operações até à realização do Leilão”.
A Parvalorem cita o contrato que tem com a leiloeira, em que se lê, “designadamente requerer e obter todas as licenças e autorizações necessárias para dar exequibilidade zeloza e cabal a todos os serviços contratados, nomeadamente, no que diz respeito à exportação para venda, embalagem, recolha, transporte, depósito, exposição, leilão, venda e entrega das obras de arte ao respectivo comprador, não suportando estas Sociedades qualquer encargo”.
Na terça-feira, a Christie’s cancelou a venda dos 85 quadros de Joan Miró, tendo afirmado em comunicado que a decisão resulta “da disputa nos tribunais portugueses”, na qual “não é parte interessada”.
“Apesar de a providência cautelar não ter sido aprovada, as incertezas jurídicas criadas por esta disputa em curso significam que não podemos oferecer as obras para venda de forma segura”, lê-se no comunicado.
Antes, o Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa tinha rejeitado a providência cautelar apresentada pelo Ministério Público para suspender a venda das obras de Joan Miró marcada para terça-feira.
No comunicado, “a Parvalorem e a Parups não excluem a possibilidade de se encontrar ainda uma solução conjunta para a situação criada pela decisão da Christie’s, desde que, naturalmente, salvaguarde os interesses que lhes cumpre acautelar, incluindo os do Estado Português, seu accionista”.
Leiloeira do Porto disponibiliza-se para comercializar obras de Miró
A galeria de arte e leiloeira P55 mostrou-se hoje disponível para comercializar as obras de Miró na posse do Estado desde a nacionalização do BPN, considerando que deve ser uma empresa portuguesa a fazê-lo para benefício da economia.
“Nós temos clientes que estão interessados na compra destas peças, achamos, antes de mais, que estas peças – a serem comercializadas – devem ser comercializadas por uma empresa portuguesa que ajude a economia nacional e, mais do que isso, achamos que são peças que deveremos sempre tentar que fiquem em nome de portugueses, que os compradores sejam portugueses e que possam um dia ser expostas aos portugueses”, afirmou à Lusa o presidente executivo da P55, Aníbal Pinto de Faria.
O responsável da leiloeira do Porto reconhece ter tido conhecimento do negócio das 85 peças, que iria ter lugar na londrina Christie’s, na terça-feira e hoje, através da comunicação social, e admite ainda não ter tido qualquer contacto com uma instituição pública acerca da transação.
Aníbal Pinto de Faria afirmou, no entanto, que a P55 está também interessada na aquisição de algumas das obras “no sentido, obviamente, de comercializar essas peças”, estando ainda a analisar quais as que representariam uma maior oportunidade.
/Lusa
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